A estiagem das últimas semanas tem afetado as operações da CatSul, serviço de transporte pelo catamarã operando entre os municípios de Porto Alegre e Guaíba, na região Metropolitana. Com o nível mais baixo do Guaíba, a empresa relata que há atrasos de cinco minutos no percurso de saída das linhas direcionadas à Capital já desde o mês de dezembro. A PortosRS, por sua vez, estatal que regula a navegação marítima no Rio Grande do Sul, afirma que não há riscos para a atividade, ao menos no presente momento, porém também já houve mudanças e a situação está sendo monitorada.
O gestor de Operações da CatSul, João Pedro Wolff, diz que a operação do catamarã está no “limite do ponto de vista de passagem”. Wolff explica que, dependendo da situação, alguns comandantes têm saído de Guaíba e circulado em velocidade reduzida na direção da saída do canal de navegação, em um percurso de dois quilômetros até a altura da Ilha do Presídio, para não haver o risco de tocar no fundo do leito com as hélices. No caminho contrário, de Porto Alegre a Guaíba, isto não ocorre, em razão das características físicas do trajeto.
O gestor comenta ainda que a operação se torna crítica quando o nível do curso d’água chega a 20 centímetros, marca que, ao menos no Cais Mauá, já foi atingida neste ano, e inclusive superada negativamente, como na última quarta-feira, quando atingiu 17 centímetros na altura da foz do Jacuí, de acordo com a régua de medição da Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema). De qualquer forma, a CatSul está operando somente com dois barcos com calado, como se denomina a medida de quanto a embarcação está baixa na água, menor, a fim de atenuar a situação.
A dragagem dos canais de navegação, conforme ele, poderia solucionar a questão. “Foi prometido desde o início da concessão a manutenção dos canais por parte do governo do Estado. Neste momento, as travessias estão num limbo. A PortosRS deixou claro que não é com eles as travessias, mas com o Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer), que não regulamentou e disse que não tem orçamento. A situação é precária e quase inacreditável”, critica.
O superintendente da PortosRS, Fernando Estima, comenta que o canal do Guaíba estava na manhã desta sexta-feira em um nível 42 centímetros menor do que o normal, que é de 5,18 metros. “Isto traz um pouco de redução de carga, e é isto que temos de monitorar. Contudo, ainda não temos perda relevante”, comenta ele. Ocorre que navios com carga excedente podem encalhar, e Estima calcula que, dado o nível atual, cada navio está circulando com, no mínimo, 5% de conteúdo a menos em relação aos descarregamentos tradicionais. “Mas não há prejuízo de perda de rota”, diz ele.
Caso a estiagem aumente, isto pode ser reconsiderado. No entanto, reduções acima de 30% são consideradas inviáveis no ponto de vista do frete, que fica mais caro e traz prejuízo ao carregador. A contratação de batimetrias, que medirão a profundidade da água, e que será feita nos próximos 60 dias, de acordo com ele, permitirá à estatal ter informações mais assertivas do canal. “Há uma expectativa das chuvas nestes próximos dias. Vamos ver se deverá resolver ao menos um pouco a situação”, afirma o superintendente da PortosRS.
Hoje pela manhã, o nível da régua da Sema estava em 53 centímetros, pouco acima da média histórica de janeiro, de 47 centímetros, conforme dados da MetSul Meteorologia. Em Porto Alegre, a situação é acompanhada pelo Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae), que alertou que a estiagem pode ampliar a possibilidade de problemas na captação da água bruta e tratamento devido à turbidez elevada.