Divulgado nesta quinta-feira, um boletim epidemiológico sobre a saúde da população negra residente em Porto Alegre mostra que 30,6% das 14.149 crianças que nasceram na capital eram de mães negras em 2021. Segundo o censo do IBGE, Porto Alegre tinha, em 2010, 20,2% da população autodeclarada negra (incluindo pretos e pardos), o que sugere desigualdade entre a incidência de gestações e a formação populacional, sobretudo em razão da mortalidade precoce, que resulta em menor expectativa de vida.
Conforme a Secretaria da Saúde, os partos das mulheres negras ocorreram, predominantemente, em hospitais SUS. Os dados apontaram ainda que os distritos sanitários com maior proporção de mães negras eram, naquele ano, Restinga (45,5%), Partenon (42,9%), Nordeste (42%), Cruzeiro (41,6%) e Lomba do Pinheiro (40,7%).
O boletim revela, contudo, que se consideradas as consultas de pré-natal, 26% das mães negras de crianças nascidas vivas realizaram seis ou menos consultas de pré-natal. Esse percentual ficou em 17,6% entre as mães brancas, o que mostra disparidade no acesso a esse tipo de atendimento. A maior proporção de mães negras de nascidos vivos em 2021 apresentou idade entre 20-29 anos e até 11 anos de estudo. Confira o boletim completo aqui.
Mortalidade precoce
Dentre os óbitos por faixa etária e raça/cor, crianças negras corresponderam a 44,4% das mortes na faixa etária de 5 a 9 anos de idade. O percentual de óbitos de pessoas negras permanece alto até os 59 anos, evidenciando a mortalidade precoce que atinge esse público.
As maiores taxas de desigualdade entre raça/cor envolvem a mortalidade resultante de tuberculose, Aids, sífilis adquirida e sífilis em gestante. A população negra da capital teve, em 2021, proporcionalmente, no mínimo o dobro de casos de Aids e de sífilis adquirida do que a população branca. Entre as gestantes negras, o número de casos de tuberculose e s sífilis era três vezes maior.
Já os homicídios de pessoas negras apresentaram alta proporção, seguido dos suicídios, de acordo com o levantamento. Enquanto entre os negros, a violência mais comumente notificada é a negligência, entre as mulheres negras, predomina o cometimento de violência sexual.
O boletim buscou analisar os principais dados epidemiológicos sobre a população negra porto-alegrense. A primeira edição, de 2021, trouxe dados do ano de 2020. Em relação à Covid-19, o levantamento cita que o percentual de pessoas sem informação de raça/cor nos sistemas de notificação de casos ainda impossibilita análises sobre a abrangência da pandemia na população negra.