Espetáculos desclassificados do Prêmio Açorianos de Teatro Adulto 2022, principal premiação do setor no Rio Grande do Sul, entraram com recurso na última semana em que pedem a impugnação do edital e o chamamento de nova comissão julgadora. Após uma reunião, que encerrou sem acerto entre os artistas e a Coordenação de Artes Cênicas da Secretaria Municipal de Cultura e Economia Criativa (SMCEC) de Porto Alegre, na quinta-feira, os quatro grupos acionaram advogados questionando o motivo apresentado para a desclassificação. Um e-mail enviado pela Coordenação informa que a comissão julgadora não conseguiu assistir às peças e, por essa razão, as desclassificou. A regra, porém, não consta no edital.
No texto, a coordenação alega que “por mais que houvesse um esforço do júri em cumprir a maratona, houve sobreposição de datas de poucos espetáculos concorrentes, de modo que a opção por um acabou eliminando da agenda outro em cartaz. De outro modo ficou acordado que aos que queiram, automaticamente estarão concorrendo ao prêmio na próxima edição”. Os espetáculos afetados foram “Sobrevida”, “Um Fascista no Divã”, “Sobrevivo: Antes Que o Baile Acabe” e “Fica, Vai Ter Bolo”.
“Isso acontece com muita recorrência, de jurados não irem a algum espetáculo. Eu mesmo, como artista e como diretor já fui prejudicado por essa situação. Achei que, nesta ocasião, deveria ter uma forma diferente de encarar isso. Vimos que alguns espetáculos só haviam sido assistidos por uma ou por um jurado, e um deles por nenhum”, explicou o coordenador de Artes Cênicas, Jessé Oliveira.
“A gente ficou estarrecido. A gente leu e releu o edital para ver se encontrava alguma coisa que dizia que, se os jurados não tivessem assistido, o grupo seria desclassificado e automaticamente estava concorrendo no ano que vem. A gente achou absurda essa decisão”, disse o diretor do GrupoJogo, Alexandre Dill. Ainda segundo ele, se o recurso não for aceito, os grupos entrarão com um mandado de segurança para anular, temporariamente, todo o edital. Dill informou também que está em andamento um processo judicial por danos morais e financeiros contra a Secretaria de Cultura de Porto Alegre.
“Estamos tomando todas as medidas legais para que isso nunca mais aconteça e que a gente comece a ser levado a sério pela Administração Pública. Somos uma comunidade artística gigante e não podemos ceder a esses autoritarismos de governos”, disse. O recurso movido pelos grupos questiona, entre outros pontos, que a responsabilidade pelo problema tenha sido atribuída exclusivamente aos jurados, já que o edital estabelece que a função da Comissão Julgadora é fiscalizar.
Na reunião da última quinta-feira, algumas alternativas foram aventadas, entre elas uma apresentação especialmente para os jurados, habilitando os grupos ao Prêmio. Os inscritos, no entanto, não aceitaram a proposta, com a alegação de que cumpriram com o edital, realizando as apresentações nas quatro datas mínimas estabelecidas. “Não faz sentido porque nós gastamos muito dinheiro, a gente pagou diárias a mais no teatro para conseguir ter essas datas que eram solicitadas”, explicou Dill.
Já Jessé declarou que se solidariza com os grupos e que entende que a “ausência dos jurados é uma coisa grave”. A Secretaria estendeu o prazo para envio de recurso até quarta-feira e o resultado final dos indicados sai na sexta. A partir daí, os envios serão avaliados pelo corpo jurídico. “Se coubesse somente a mim decidir, talvez fosse muito mais fácil, mas a Secretaria precisa decidir à luz de amparo jurídico, do edital e de todas as opiniões que existem acerca disso”, finalizou o coordenador.
O Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões do Estado do Rio Grande do Sul (Sated/RS) emitiu nota em que declara desacordo com a desclassificação e sugere a suspensão da premiação Teatro Adulto. “O Sated/RS apoia as reivindicações dos grupos prejudicados e se dispõe a contribuir para a construção de um novo processo com mais transparência e equidade”, cita um trecho da nota do sindicato.