A crise política que atinge o Peru há mais de um ano, protagonizada pelo presidente Pedro Castillo, acusado de corrupção pelo Ministério Público, parece não ter afetado o circuito de eventos no país. Apesar dos protestos, que levaram o governo a decretar um toque de recolher em Lima, no início do ano, os organizadores da 54ª edição do Fusion Fighting Championship se dizem confiantes que o evento de mixed martial arts (MMA) deve ocorrer sem imprevistos, nesta quinta-feira, com a presença do gaúcho Dimitry Zebroski, de 34 anos, que disputa o título até 77kg na luta principal da noite.
“A crise institucional atinge toda a América Latina. O Peru tem alguns problemas políticos, mas viemos trabalhando contra a maré para entregar ao público da América Latina um espetáculo de lutas”, declarou Claren Anderson, matchmaker do FFC, à Rádio Guaíba.
Na visão do empresário Rafael Sombra, head coach e líder da equipe do atleta porto-alegrense, o fato de o FFC não ser vinculado ao estado peruano assegura a realização do evento. Ele alega que participou do evento em julho, poucos meses após Castillo ter sobrevivido a um segundo pedido de impeachment, e que as brigas políticas não influenciaram os combates no cage.
“Apesar dos problemas políticos, tenho certeza de que, pelo evento ser privado, tudo vai ocorrer normalmente no dia 27”, disse o fundador da Sombra Team. “Da última vez que estivemos lá, tudo correu bem. Inclusive, o Dimitry derrotou a estrela do evento e isso o credenciou para a luta pelo cinturão”, destacou.
Essa não é a primeira vez que Rafael Sombra envia um dos atletas que empresaria para competir em outros países. O empreendedor, que já negociou com eventos na Rússia e no mundo Árabe, se mantém alheio às crises políticas na busca por oportunidades no circuito internacional de lutas.
“A Sombra Team é uma fábrica de sonhos. Enviamos atletas para fora do Brasil, onde está o dinheiro e os patrocinadores”, afirmou o gestor. “Atualmente, mandamos os lutadores para organizações no mundo inteiro. Nosso país tem ótimos eventos, mas é lá fora que o atleta é valorizado”, detalhou
Em consenso com o treinador, o confronto político também não é o foco de Zebroski. O atleta de Porto Alegre, que luta profissionalmente desde 2010, se mantém centrado na disputa pelo título para desviar da crise no país vizinho.
“Da vez em que estive lá, não senti as tensões políticas pois praticamente não saí nas ruas. Fiquei no hotel, perdendo peso, e fiz a luta. Não percebi desavenças e fui muito bem tratado”, destacou o lutador. “Essa luta vai abrir portas para mim, é minha primeira disputa internacional por um título. Só tenho a agradecer ao FFC por esta oportunidade”, frisou o atleta que, além dos treinos coordenados por Rafael Sombra, conta com o preparador físico Lucas Hernandez, e os coachs Ítalo Centeno, Fábio ‘Baby’ Flores’ e Andrews Shamow nas técnicas de muay thai, wrestling e boxe, respectivamente.
Entenda a crise política no Peru
No poder desde julho de 2021, Pedro Castillo já enfrentou duas tentativas de destituição no Congresso, sendo submetido a seis investigações por corrupção. Na semana passada, o Ministério Público denunciou o líder peruano ao Parlamento, um processo que pode gerar a suspensão do presidente, que se considera vítima de perseguição.
Na última quinta-feira, a Organização dos Estados Americanos (OEA) aprovou uma resolução “de apoio à preservação da institucionalidade democrática” no Peru, e pediu “a todos os atores” que ajam dentro “do estado de direito”. A entidade divulgado o documento após a visita de representantes ao país.