Permissionários e comerciantes do Viaduto Otávio Rocha têm futuro incerto

Processo de desocupação tem sido marcado por discussões, incertezas e conflito

Fernandes vai instalar a loja de conserto de relógios e de óculos na Praça XV de Novembro | Foto: Alina Souza/CP

O processo de retirada dos permissionários e ocupantes de espaços comerciais do Viaduto Otávio Rocha, no Centro Histórico, tem sido marcado por discussões, incertezas e conflito com a prefeitura. Mesmo contrariados, uma parte dos comerciantes já deixou o local, que vai passar por obras de revitalização.

Prestes a deixar o espaço que ocupou por 15 anos para comercializar mochilas, chapéus, mantas e outros acessórios, Neli Guedes, 65, afirma que vai voltar a vender os produtos na calçada. “Já levei bastante coisa embora, porque vou ter que sair daqui. Estou cheia de dívidas para pagar, cheia de contas para pagar e, de uma hora para outra, decidem que a gente tem que ir embora”, critica.

Proprietária da loja Neli Brinquedo, Neli — conhecida como a gringa — destaca os reflexos da pandemia nos negócios. “Foi uma coisa que atrasou bastante, a gente ficou com muita coisa para pagar”, completa. Ela recusou a proposta da prefeitura, que ofereceu um espaço no Pop Center, o Centro Popular de Compras, com dois meses de renúncia de locação. “As lojas que têm lá nos fundos não compensam, não vai quase ninguém. E o aluguel se torna muito caro porque tem que pagar o condomínio por semana”, destaca. A última semana de trabalho foi marcada por aflição. “Não sei o que é que eu vou fazer. A gente não consegue dormir mais de noite porque os nervos estão à flor da pele”, afirma.

Como a previsão de duração da obra é de 18 meses, o futuro é incerto para Neli. “Agora que passou a pandemia, que a gente ia poder começar, que começou a querer melhorar, a gente tem que sair da loja para ir não se sabe para onde”, observa. “Provavelmente vou voltar para a rua e espero que ninguém me incomode”, completa. Em outro ponto do viaduto, próximo da rua Fernando Machado, o relojoeiro André Luciano Menezes Fernandes, 51, já começa a organizar a mudança para um espaço prometido pela prefeitura na Praça XV de Novembro. Proprietário de uma loja de conserto de relógios e óculos, Fernandes herdou o negócio do pai, José Ademar Fernandes, que foi um dos primeiros permissionários.

André afirma que mudança deve ocorrer nas próximas até que o espaço oferecido pela prefeitura fique pronto. “Infelizmente a reforma tem que ser feita, o viaduto necessita de uma reforma, porque já está muito deteriorado e abandonado. É necessário e a gente sabe que vai causar um desconforto, um transtorno, mas é necessário”, reforça. Ao deixar o Viaduto Otávio Rocha, a família interrompe uma história de décadas de atendimento ao público naquela região. “A gente está aqui há cinquenta anos, com a clientela formada”, lembra. Apesar de reconhecer a importância da revitalização da estrutura, ele afirma que a mudança gera preocupação. A perspectiva lá é boa, porque é um lugar onde tem uma circulação de pessoas grande”, avalia.

Apesar da promessa de melhoria com a revitalização, ele afirma que não há garantia de retorno ao local após a conclusão das obras. “Não tem garantia nenhuma. Nas duas primeiras reuniões que a gente fez com a prefeitura garantiram que voltaríamos. Nas reuniões seguintes, nunca houve uma garantia de volta”, observa. Com o valor orçado em R$ 13,7 milhões, as obras serão realizadas pela empresa Concrejato Serviços Técnicos de Engenharia, vencedora da licitação. Com prazo de execução de 18 meses a contar a partir da assinatura da ordem de início, o projeto prevê intervenções estruturais e estéticas.