Justiça Militar decide manter presos PMs que abordaram jovem encontrado morto em açude de São Gabriel

Comando da corporação apontou contradições entre o registro oficial da ocorrência e o depoimento dos militares

A Justiça Militar em Santa Maria atendeu, na noite desta sexta-feira, os pedidos de prisão preventiva e de apreensão dos celulares dos três PMs envolvidos na abordagem do jovem Gabriel Marques Cavalheiro, de 18 anos, encontrado morto em um açude de São Gabriel, na Fronteira Oeste.

Mais cedo, a Secretaria Estadual da Segurança Pública (SSP/RS) reuniu a imprensa, no Quartel do Comando-geral da Brigada Militar, em Porto Alegre, a fim de detalhar as ações tomadas desde o desaparecimento de Gabriel, na sexta-feira da semana passada. A corporação se manifestou após o corpo do ter sido encontrado submerso na localidade de Lava Pés, próximo ao local onde os três PMs disseram ter deixado o jovem.

Na entrevista coletiva, as autoridades destacaram que os militares adotaram procedimento fora do padrão e deram informações contraditórias no registro da abordagem e, mais tarde, em depoimento à Corregedoria-Geral sobre o que havia ocorrido.

“Foi comprovado, através do GPS, que a viatura esteve mais de dois minutos no local e temos, comprovadamente, que os policiais registraram algo que não foi o que realmente aconteceu”, afirmou o secretário de Segurança Pública, coronel Vanius Cesar Santarosa. O oficial disse não saber o que, de fato, ocorreu mas assegurou que há uma investigação em curso na Brigada Militar, com o apoio de OAB e do Ministério Público, para apurar a situação.

O corregedor-geral da BM, coronel Vladimir Luís Silva da Rosa, declarou que os policiais envolvidos no caso foram retirados das funções e tiveram o armamento recolhido. Ele também disse que o Comando responsável pelo Batalhão pode vir a ser afastado, caso isso se mostre necessário, no decorrer das investigações.

De acordo com o subcomandante-Geral da BM, coronel Cláudio dos Santos Feoli, Anderson da Silva Cavalheiro, pai da vítima, procurou o comando local para relatar o desaparecimento do filho, na última segunda-feira. Após ouvir os policiais – um tenente e dois soldados -, que relataram ter atendido uma denúncia sobre suposta invasão de domicílio, a BM instaurou um inquérito policial militar.

Nos registros oficiais, os PMs informaram que, após a abordagem, liberaram Gabriel no próprio local. O registro contradiz os depoimentos que prestaram, dias depois. Segundo o subcomandante-geral, os PMs alegaram ter levado Gabriel a outra localidade na intenção de auxiliar o jovem a encontrar o caminho do que queria. Na versão dos militares, uma suposta ‘confusão’ levou Gabriel a entrar na casa errada. A proprietária da residência, então, acionou a corporação se dizendo ‘importunada’ pelo jovem.

O GPS do veículo mostra que, antes de retornarem ao centro da cidade, os policiais estacionaram a viatura, após a abordagem, por aproximadamente dois minutos, na região do açude onde Gabriel teve o corpo encontrado.

O tenente envolvido na abordagem soma 16 anos de serviço na corporação. Já os soldados, 15 e 6 anos, respectivamente.

Gabriel Marques Cavalheiro era morador de Guaíba e, em São Gabrial, cumpria o serviço militar obrigatório. De acordo com a Polícia Civil, os PMs abordaram o jovem na avenida 7 de Setembro, no bairro Independência. Um vídeo amador que registrou a ação mostra o jovem algemado.

Na noite desta sexta, a BM lançou nota oficial sobre o caso, confirmando a decisão judicial que manda prender o trio. Veja:

NOTA À IMPRENSA

Em relação ao episódio ocorrido em São Gabriel, a Brigada Militar informa que mobilizou todo o seu efetivo na região para localizar o jovem Gabriel Marques Cavalheiro, cujo corpo foi encontrado no final da tarde de sexta-feira, 19 de agosto.

Um Inquérito Policial Militar foi instaurados ainda na segunda-feira, 15 de agosto, para apurar os fatos e as circunstâncias do atendimento dos três policiais envolvidos na ocorrência.

As armas dos policiais também foram recolhidas na terça-feira, dia 16.

Na tarde de sexta-feira, às 15h, foi protocolado pela Corregedoria-geral junto à Auditoria da Justiça Militar de Santa Maria o pedido de prisão preventiva e de recolhimento dos celulares dos militares integrantes da guarnição, que já estavam afastados desde terça-feira, dia 16 de agosto e, na quinta-feira, dia 18, foram agregados.

A Auditoria da Justiça Militar de Santa Maria acolheu o pedido da Brigada Militar e determinou a prisão preventiva dos militares envolvidos. A Corregedoria-geral da BM cumpriu os mandados de prisão preventiva e de recolhimento dos celulares, com acompanhamento de militares do 2⁰ Batalhão de Polícia de Choque de Santa Maria. Os militares ficarão, a partir de agora, recolhidos e à disposição da Justiça.

A viatura foi encaminhada para perícia, cujo resultado ainda é aguardado.

A Brigada Militar, ao longo de seus 184 anos, nunca deixou de ser transparente nos seus atos. Tão logo as investigações sejam concluídas, as informações serão trazidas a público.

Em caso de comprovação do envolvimento dos militares, todas as medidas de responsabilização serão adotadas, sempre resguardando o direito à ampla defesa e ao contraditório.