Ucrânia e Rússia assinaram, nesta sexta-feira, um acordo com a Turquia e as Nações Unidas sobre a exportação de grãos e de produtos agrícolas através do Mar Negro, a fim de aliviar a grave crise alimentar mundial. Após várias rodadas de negociações, as delegações de Kiev e Moscou assinaram dois textos idênticos, mas em separado, conforme solicitado pelo governo ucraniano, que se recusou a assinar qualquer documento diretamente com o governo russo. As informações foram publicadas pela Agência France Presse (AFP).
As quatro delegações se reuniram no Palácio Dolmabahçe, às margens do Bósforo, em Istambul, na presença do secretário-geral da ONU, António Guterres; do presidente turco, Recep Tayyip Erdogan; dos ministros turco e russo da Defesa e do ministro da Ucrânia para a Infraestrutura. A cerimônia aconteceu sob as bandeiras de Rússia e Ucrânia, separadas pela bandeira azul da ONU e pela bandeira vermelha da Turquia. Ancara se ofereceu para servir de mediador desde o início da invasão russa, em 24 de fevereiro deste ano.
Negociado desde abril sob a liderança de Guterres, que chegou a Istambul na quinta-feira, o acordo vai aliviar a carga sobre os países dependentes dos mercados russo e ucraniano, que respondem por 30% do comércio mundial de trigo. Sob os termos do acordo, serão criados “corredores seguros” que permitirão o movimento de navios mercantes no Mar Negro, os quais “ambas as partes concordaram em não atacar”, relatou um funcionário da ONU que pediu anonimato. “Hoje há um raio no Mar Negro: um raio de esperança, um raio de possibilidade, um raio de alívio”, reagiu o secretário-geral da ONU.
Esse é o primeiro grande pacto selado por ambos os lados desde que a Rússia invadiu a Ucrânia.
O conflito, que já deslocou milhões de pessoas e deixou milhares de mortos, está sendo travado entre dois dos maiores produtores de grãos do mundo. Cerca de 25 milhões de toneladas de trigo e de outros cereais seguem bloqueadas nos portos da região de Odessa pela presença de navios de guerra russos e minas colocadas por Kiev para defender a costa.
Conflito continua
Apesar do avanço da diplomacia, a guerra continua no terreno, e as forças russas mantêm a ofensiva na região de Donetsk, no leste. Pelo menos cinco pessoas morreram, e dez ficaram feridas nesta área nas últimas 24 horas, segundo a Presidência ucraniana.
Os alvos de Moscou não se restringem mais ao leste da Ucrânia, segundo o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov. No início da invasão, as tropas russas se aproximaram rapidamente da capital ucraniana, Kiev, sem poder tomá-la. A partir do final de março, redirecionaram a ofensiva para o Donbass, parcialmente controlado por separatistas pró-russos desde 2014.