Não é novidade, o usar lenha para cozinhar virou realidade no nosso dia a dia. Influenciado pelo aumento do preço do botijão de gás, 36,99% em 2021 (dados do IBGE), o consumo da lenha em residências voltou a crescer, após anos em queda, representando 26,1% do consumo total da matriz energética no Brasil. Só fica atrás da eletricidade, com 45,4%. Os dados são da Empresa de Pesquisa Energética (EPE). No ano passado foram 24 milhões de toneladas de lenha, o maior consumo desde 2009 quando 24,3 milhões de toneladas foram consumidos em casas. Em 2022 esse número pode crescer ainda mais.
No Rio Grande do Sul, o consumo aumenta nessa época do ano. Afinal, aqui no sul 64% dos que compram lenha, segundo o EPE, também a usam para esquentar o lar onde vivem. É o caso do aposentado Irineu Seidenfuss. Morador do bairro Vila Nova em Porto Alegre, ele passou em um estabelecimento comercial na Estrada Costa e Gama, no Belém Velho, ele levou três sacos de lenha. “Não pode faltar, ainda mais no frio”, salientou. Seidenfuss ressalta que utiliza o produto para cozinhar ainda que em menor quantidade. “A gente acaba fazendo alguma coisa no fogão a lenha”.
No Belém Velho, assim como todo bairro do extremo sul da Capital, é comum ver lenha à venda, principalmente na beira das estradas e avenidas. Os preços variam de acordo com o peso e quantidade do saco. Até por metro é possível encontrar. “Vendemos três sacos por R$ 12 e R$ 3,50 o metro” informa Vitória Ribicki, a gerente de um comércio nas margens da Costa e Gama, animada com o aumento nas vendas. “Ano passado a gente vendia uns 80 sacos por dia, agora estão saindo uma média de cem. No final de semana são mais de 300 ”.
O comércio do produto ocorre até por encomenda. Quem pede toda semana é a também moradora do Vila Nova, Maria Etelvina. Criada no bairro desde que nasceu, a cozinheira de 56, comenta a tradição. “Todo casa tem um fogão a lenha”. Com o aumento do preço do gás, usar a lenha para cozinhar alimentos voltou a ser rotina. “O último botijão eu gastei R$ 120. Está muito caro. Então, a gente acaba usando mais a lenha.”
No bairro vizinho, Lageado, o aumento de vendas também é notado pelos comerciantes. “Hoje ainda não vendi o que esperava, mas aumentou sim a venda”, comentou o vendedor Jeferson Santos. Não muito longe dali o comerciante André Silveira, vulgo Katatau, perdeu e ganhou. No seu comércio, vende tanto gás de cozinha como lenha. “Tive uma queda de 30% nas vendas (do gás de cozinha). Isso que nem repassei todo o aumento para o cliente”, relata. Já com a lenha…“O preço para mim não aumentou. Tive um crescimento de 15% na saída do saco de lenha”.
Cuidados
O aumento do preço do botijão de gás e o aumento do uso de lenha, carvão e até etanol para cozinhar se reflete nos atendimento a queimados de hospitais em Porto Alegre. Somente no Hospital de Pronto Socorro de Porto Alegre, o número de atendimentos por queimadura nos cinco primeiros meses teve aumento de 24% comparado a 2021. Foram 841 intercorrências, divididas em 87 internações e 754 atendimentos ambulatoriais, com seis óbitos nos primeiros cinco meses do mês.
No ano passado no mesmo período, foram 680 registros, dos quais 76 internações e 604 atendimentos ambulatoriais, com oito óbitos. O coordenador de enfermagem da UTI, Tiago Fontana, alerta que a maioria das queimaduras poderia ser evitada se a população fosse mais cautelosa. Ele explica que os acidentes mais comuns são com líquidos inflamáveis, que podem causar explosão, além de escaldamento com líquidos quentes, principalmente em crianças. “Antes de ligar, acender ou ativar aquecedores, estufas, lençóis térmicos, lareiras e outros utensílios, a pessoa deve ficar atenta e observar cada manual de instruções”.