O presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou, nesta segunda-feira, que nunca vai ser preso, insinuou que o PT já conhece o resultado das eleições presidenciais deste ano, voltou a levantar suspeitas sobre as urnas eletrônicas e provocou ministros do Judiciário.
“Mais da metade do meu tempo eu me viro contra o processo. Por Deus que está no céu, eu nunca vou ser preso”, disse Bolsonaro, sem citar as circunstâncias ou eventuais processos, durante evento supermercadista em São Paulo. “Eu até digo que estou no Palácio do Alvorada e me sinto como um prisioneiro sem tornozeleira eletrônica.”
No discurso, o presidente contou que “não dorme sem uma arma ao lado”, apesar dos mais de “cem seguranças” lotados na residência oficial.
STF e TSE
Bolsonaro comentou o julgamento, atualmente paralisado, do marco temporal pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e provocou o ministro Edson Fachin, que também é presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
“Eu sei que não deveria falar, mas nós temos no Brasil o equivalente à região Sudeste como território indígena. Está dentro do STF que o ministro Fachin luta, de todas as maneiras, para aprovar o novo marco temporal”, relatou.
“De imediato, caso seja aprovado, nós teremos, além da Sudeste, uma área equivalente à região Sul como território indígena. E pela localização geográfica, teremos mais uma área do tamanho de São Paulo inviabilizada para o agronegócio. Acabou. Acabou, porra. Não devemos medir palavras para defender o nosso Brasil. Ficam de frescura”, completou.
Bolsonaro aproveitou o discurso para voltar a citar as Forças Armadas no contexto das dúvidas que levanta sobre o sistema eleitoral brasileiro, e provocou ministros do TSE e STF.
“O TSE convidou as Forças Armadas [para participar das eleições], que levantaram mais de 600 vulnerabilidades. Faz o seu trabalho, apresenta as sugestões, mas não vale as sugestões. Não vale. Não tem dono da verdade”, contou. “Não tem uma semana que eu não levo no lombo uma ação do Supremo que atinge todo o Brasil.”
Segundo Bolsonaro, “todos vão morrer e feder da mesma maneira, juntamente com todos que estão na Praça dos Três Poderes”. Sem citar nominalmente os magistrados e as decisões monocráticas que tomaram, o presidente afirmou que há quem tente roubar o país agora, como fizeram em 1964 – período que teve início a ditadura militar. “Lá atrás pelas armas, hoje pelas canetas”.
PT e Lula
Durante pronunciamento, de cerca de uma hora, Bolsonaro insinuou que o PT já conhece o resultado das eleições presidenciais deste ano, em que os principais candidatos são o atual comandante do Executivo e Luiz Inácio Lula da Silva, que aparece em primeiro lugar nas pesquisas.
“Eu vejo hoje que o nosso querido [senador] Jaques Wagner [PT-BA] já está em contato com embaixadores sobre a posse do Lula. Quem está dando essa certeza para ele? Eu não acho que seja o nosso inexpugnável TSE. Quem está dando essa certeza para ele?”, questionou.
“Tudo pode acontecer. Podemos ter outra crise, podemos ter eleições conturbadas. Imagina acabarmos as eleições e parar, para um lado ou para outro, que não foram limpas”, acrescentou. “Ou nós decidimos no voto, para valer, contabilizado, auditado ou a gente se entrega”.
Troca de ministérios e negociações
O presidente comentou, ainda, sobre as negociações envolvendo partidos e políticos e a troca de ministérios e criticou indiretamente o ex-presidente da Câmara dos Deputados Rodrigo Maia, referindo-se a ele como “gordinho”.
“Tive reunião no gabinete. Quantas vezes chegava um parlamentar gordinho lá — nada contra os gordinhos — e dizendo ‘olha, se não arranjar esse ministério, não entra em pauta nada, nem na Câmara nem no Senado’. É f* trabalhar assim”.
Evento
O Apas Show é uma das maiores feiras de supermercados do mundo e ocorre na Expo Center Norte, na capital paulista. De acordo com os organizadores, a 36ª edição do evento é a maior da história, com mais de 800 expositores. O evento ocorre entre 16 e 19 de maio.
Participaram do evento os ministros Paulo Guedes (Economia), Ronaldo Bento (Cidadania) e Marcos Montes (Agricultura, Pecuária e Abastecimento). Estiveram presentes os ex-ministros Tarcísio de Freitas (Infraestrutura), pré-candidato ao governo de São Paulo, e Marcos Pontes (Ciência e Tecnologia), pré-candidato à Câmara dos Deputados, além do prefeito da capital paulista, Ricardo Nunes (MDB).