Militares ouvidos pela reportagem do portal R7 criticaram a declaração feita pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de que, caso vença as eleições deste ano, vai retirar quase 8 mil militares de cargos comissionados no Executivo. Lula mencionou o assunto durante um evento realizado nesta semana na sede da Central Única dos Trabalhadores (CUT), em São Paulo.
“Nós vamos ter que começar o governo sabendo que nós temos que tirar quase 8 mil militares que estão em cargos de pessoas que não prestaram concurso”, afirmou o ex-presidente. “Vamos ter que tirar. Isso não pode ser motivo de bravata, tem que ser motivo de construção”, completou.
O presidente da Associação dos Oficiais da Reserva Remunerada e Reformados da Polícia Militar e Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (Assor), coronel Wellington Corsino do Nascimento, rechaçou a declaração do petista. “Na prática, o Lula quer é transformar o Brasil numa república socialista, e os militares são empecilho nesse processo. E eu tenho certeza que eles não vão deixar isso acontecer”, afirmou.
Para ele, os militares são uma categoria altamente qualificada e responsável, “diferente da turma que [Lula] colocou no governo” [quando presidiu o país]. “O ex-presidente Lula foi punido pela justiça, mas o Supremo Tribunal Federal anulou suas sentenças e condenações. Mas, agora, será julgado pelo povo [nas eleições deste ano]. E ele está sentindo isso, porque justamente quer polemizar com o [presidente Jair] Bolsonaro, que tem aproveitado os militares em seu governo”, disse.
O coronel argumenta que o uso de militares em cargos no Executivo é uma prática permitida pela Constituição Federal e necessária diante da demanda, em várias áreas, da população brasileira. “Inegavelmente o Estado não conseguiu produzir marcas de trabalho com a competência exigida em todas as áreas. Por mais que faça concurso e preencha cargos públicos com simpatizantes de seu governo, não vai acabar preenchendo com competência todos os cargos que a administração pública precisa para atender a população. Sempre vai ser necessário ter cargos comissionados”, completou Nascimento.
O vice-presidente da Associação dos Militares Estaduais do Brasil (AMEBrasil), coronel Flammarion Ruiz, lembrou que Lula “pode falar o que bem entender”, uma vez que o país vive uma democracia, com liberdade de expressão e de opinião. Ruiz defendeu, contudo, que o petista seja coerente e tenha mais responsabilidade com as declarações. “O Lula deve levar em consideração que o que está em jogo é o serviço que é prestado à população e, neste caso específico, o serviço prestado pelos militares”, disse. “Sem ponderar, essa possibilidade de se retirar quase 8 mil militares é uma expectativa de fazer valer um argumento que responda a interesses alheios ao da população”, acrescentou.
Para o vice-presidente da associação, ao fazer a declaração, Lula estabelece conflito com diversas camadas sociais para garantir que a posição dele prevaleça diante das demais. “E o grande significado da presença das forças de segurança é justamente o equilíbrio na relação entre as pessoas.” Segundo Ruiz, “a racionalidade deve vencer o radicalismo”.
Levantamento realizado pelo Tribunal de Contas da União apontou que, em 2020, 6.157 militares da ativa e da reserva preenchiam cargos em comissão, de natureza civil, no governo do presidente Jair Bolsonaro. Na gestão anterior, do ex-presidente Michel Temer, eram 2.765.