A reunião para as negociações de paz entre Ucrânia e Rússia terminou nesta sexta-feira, segundo informações da rede de notícias norte-americana CNN. Um dos pontos cruciais que foram discutidos durante o encontro realizado em Istambul é o estabelecimento de um acordo internacional que garanta a segurança dos ucranianos. O conselheiro presidencial da Ucrânia Mykhailo Podolyak declarou ainda que houve consultas intensas sobre vários tópicos, inclusive com a chance de adotar uma posição neutra na região.
“O ponto chave é este acordo sobre uma segurança internacional para a Ucrânia. Apenas com este acerto nós poderemos acabar com a guerra”, disse Podolyak. Segundo ele, a a adoção de uma posição neutra está diretamente ligada a esta garantia.
A possibilidade de um novo cessar-fogo também foi discutida na reunião. Conforme Podolyak, somente a partir disso os problemas humanitários poderão ser resolvidos. Os representantes ucranianos declararam que há uma grande crise humanitária nas cidades por conta dos bombardeios do exército russo. Além disso, eles mencionaram a tomada da cidade Mariupol.
Renunciar à adesão da Otan ou estabelecer a neutralidade da Ucrânia são dois temas cruciais exigidos pela Rússia e que o presidente ucraniano admitiu que podem ser analisadas, mas que precisariam de emendas constitucionais ou um referendo, duas alternativas vetadas em tempos de guerra.
Referendo sobre a neutralidade
A questão da “neutralidade” da Ucrânia – uma das questões centrais nas negociações com a Rússia para acabar com o conflito – está sendo profundamente estudada, afirmou Zelensky no último domingo em entrevista à imprensa russa. O governante declarou que está “disposto a aceitar” uma cláusula de negociação sobre “garantias de segurança e neutralidade e o status de desnuclearização” do Estado, uma exigência de Moscou.
Ambição da Otan na Constituição
“Temos que reconhecer que a Ucrânia não vai poder aderir à Otan”, declarou o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky em 15 de março. Ele afirmou que durante anos seu país ouviu que as portas estavam abertas, mas também que não poderiam entrar na organização. “É a verdade e isso deve ser reconhecido”, disse em um discurso interpretado como um abandono do plano de entrar para a Aliança Atlântica e que foi considerado por parte da sociedade ucraniana como uma concessão inaceitável.
As aspirações da Ucrânia de entrar na Otan estão registradas na Constituição do país, mas esta não pode ser alterada por emendas em um período de lei marcial, como acontece atualmente, nem quando o estado de emergência está em vigor. A renúncia a esta perspectiva precisa ser aprovada em duas sessões no Parlamento com 300 votos de um total de 450 deputados e validada pela Corte Constitucional.
Para Olga Aivazovska, diretora da ONG ucraniana Opora, especializada em eleições e referendos, as declarações sobre a Otan são “abstratas”. “A Ucrânia não é candidata para aderir à Otan e não há um plano de ação para a adesão. As declarações do presidente não têm valor jurídico, ao contrário da Constituição. O presidente verbaliza o conteúdo das discussões que estão em curso e as exigências do país agressor”, destacou.
A concessão menos dolorosa
O cientista político ucraniano Volodymyr Fesenko explicou que a percepção da população ucraniana pode mudar de acordo com a duração da guerra no país. “Hoje em dia, não serão mais de 300 vozes, mas se o conflito durar e perceberem que a Otan não ajuda, a opinião pode mudar”, explicou. “A decepção de Zelensky com a ajuda insuficiente da Otan se traduz na opinião pública e do nosso lado a concessão mais simples e menos dolorosa é a Otan”, completou.