Ao lado do marido ucraniano e dos dois cachorros, a brasileira Fernanda Krupin, de 29 anos, se deslocou quatro vezes nos últimos sete dias, buscando abrigos seguros em meio ao avanço das tropas russas na Ucrânia.
”Foi horrível, eu vi diversos tanques na rua, canhões e escutei bombardeios na estrada”, conta sobre um dos percursos.
Fernanda poderia sair da Ucrânia para se estabelecer em algum país vizinho, como mais de 1 milhão de pessoas fizeram, mas escolheu permanecer ao lado do marido. Com o decreto da lei marcial, todos os ucraninos com idade entre 18 e 60 anos estão proibidos de deixar o país.
Entre as famílias que chegam à fronteira ucraniana, apenas mulheres e crianças conseguem passar, os homens ficam para trás esperando a convocação do Exército.
“Estamos vivendo um dia de cada vez e em alerta o tempo todo”, explica. Ela e o marido se conheceram no Brasil e moram juntos na Ucrânia há cerca de um ano e meio.
“Eu disse que se alguma coisa acontecesse nós sairíamos juntos ou ficaria com ele aqui. Nós temos meios de nos proteger, ainda não temos filhos e temos um carro para nos locomover.”
”Eu entendo as mulheres que precisaram sair por conta de seus filhos e pela dificuldade de locomoção. Mas enquanto estivermos protegidos, permaneceremos juntos”, conclui.
O casal estava receoso na última semana antes da invasão. Os dois estavam esperando a documentação dos cachorros para viajarem para o norte da Ucrânia, mas os documentos só ficaram prontos no mesmo dia em que a invasão russa começou.
O país conta com os militares ucranianos responsáveis por segurar o avanço russo em grandes cidades e com aqueles que se voluntariam para proteger a nação. Homens e mulheres sem experiência militar se apresentam para treinamento e para receber equipamentos.
Fernanda ressalta que a luta da população é impressionante. “A Ucrânia é cercada de um povo de muita força e resistência. Pessoas que nunca pegaram em armas estão indo para a linha de frente da guerra.”
Entre os ucranianos afetados pela destruição das tropas russas, está o sogro da brasileira. Aos 87 anos, ele tem memórias de sua infância durante a Segunda Guerra Mundial e chora por causa da atual invasão russa.
O idoso se recusou a deixar sua casa, localizada em um vilarejo perto de Kiev, quando a guerra se intensificou. Atualmente, sabe que o filho de 35 anos pode ser convocado pelo Exército.
“Meu marido não tem treinamento militar e essa situação é superangustiante, não tem como não ser”, relata Fernanda. ”Mas quero manter minha fé de que a gente vai conseguir superar isso, que de alguma forma vamos conseguir sair daqui ou voltar para nossa vida de antes.”