Com a alta de casos de Covid-19 e influenza no Rio Grande do Sul, hospitais de Porto Alegre registram um aumento no número de crianças que chegam com sintomas respiratórios ou gripais (como febre, tosse, dor no corpo e mal-estar) neste começo de 2022. Não há uma elevação de internações, mas o crescimento de infecções nessa faixa etária, que ainda não foi imunizada contra o coronavírus, gera um alerta entre profissionais da saúde.
A Santa Casa de Misericórdia informou que na segunda semana de janeiro são feitos, em média, 104 atendimentos pediátricos diariamente. Destes, 65% apresentam sintomas gripais ou respiratórios. O número, segundo a instituição, é maior se comparado com o início de dezembro. Na ocasião, eram 82 atendimentos por dia, com média de 45% para sintomas gripais ou respiratórios. Consultada pela reportagem, a Santa Casa diz que até essa sexta havia internada uma criança confirmada com Covid-19 e outras três com suspeita.
O aumento também foi registrado no Hospital Moinhos de Vento. Na primeira quinzena de 2022, a unidade informou um crescimento de 30% nos atendimentos pediátricos em relação a dezembro, sendo que metade dos casos são de crianças com sintomas gripais ou respiratórios. No mês passado, do total de menores atendidos na instituição, 30% tinham sintomas gripais ou respiratórios. Conforme o hospital, até a sexta não havia nenhuma criança internada por influenza ou Covid-19.
Em janeiro, no entanto, o hospital contabilizou até essa sexta cinco internações do público por Covid-19, contra uma em dezembro. No mês passado, contudo, a criança internada esteve na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) em decorrência da doença, algo que, conforme a instituição, ainda não aconteceu em 2022.
De acordo com o chefe do Serviço de Emergência Pediátrica, João Carlos Batista, o Hospital de Clínicas não coloca em estatísticas os casos de crianças que chegam na instituição e são liberadas para casa após as consultas – somente são contabilizadas aquelas com necessidade de internação. Mesmo que não sejam quantificados no papel os atendimentos mais leves, a chefe Sandra Machado afirma que aumentou bastante o movimento de pais que chegam com crianças, na maioria das vezes sem comorbidades, com sintomas gripais ou respiratórios.
A especialista enfatiza que as crianças atualmente, em virtude das flexibilizações, estão mais expostas aos vírus da influenza e do coronavírus. E os pais, muitas vezes vacinados contra a Covid-19, por exemplo, entram em contato com várias pessoas e passam o vírus para os menores, ainda não imunizados.
Para João Carlos Batista, existe uma diferença de qualidade de vida quando a Covid-19 atinge o público adulto e o infantil. “(Se a doença não atingir de forma dura) o adulto, no terceiro, quarto dia, volta a sua rotina. A criança, não. Ela fica mais incomodada”, explica.
O Hospital de Clínicas também registrou primeiro caso infantil de flurona (infecção conjunta de influenza e Covid-19). A criança possui doença respiratória prévia e já fez tratamento otorrinolaringológico anteriormente. Ela chegou na instituição na quinta, com um quadro de febre persistente. Após o diagnóstico, permanecia bem, de acordo com a instituição nessa sexta-feira.
Vacinação de crianças contra Covid-19
Nessa sexta, chegou ao Rio Grande do Sul o primeiro lote de vacinas contra a Covid-19 para o público de cinco a 11 anos. O Estado deve ser o último no país a fazer a imunização, que começa no dia 19. Em Porto Alegre, ela será em sete pontos. Primeiro, serão vacinadas crianças com alguma comorbidade (como diabetes, hipertensão, asma ou meninos e meninas imunossuprimidos) ou com deficiência permanente.
João Carlos Batista também é professor de Pediatria na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Em documento com outros colegas da universidade, ele destaca a importância da imunização contra a Covid-19 para as crianças. “A vacinação para a Covid-19 em crianças e adolescentes, além de proteger contra o risco da doença e suas formas mais graves (eficácia de 90,7% na faixa etária de cinco – 11 anos), também pode auxiliar na redução da Covid longa, ampliar o coletivo de população vacinada, diminuir as chances de transmissão para indivíduos suscetíveis e auxiliar no bloqueio dos processos de surgimento de novas variantes já que diminui a população de doentes”, diz o documento.