Santa Casa de Misericórdia demite corpo clínico do setor de obstetrícia

Funcionamento da maternidade, que esteve fechada, ficou a cargo de uma empresa terceirizada

Foto: Alina Souza/CP Memória

A Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre demitiu todo o setor de obstetrícia, com exceção dos médicos em férias ou em licença. Os 22 desligamentos ocorreram entre esta terça e quarta-feira, devido a questões financeiras, e o funcionamento ficou a cargo de uma empresa terceirizada, que contrata profissionais sem vínculo empregatício.

A emergência obstétrica fechou ao público, na terça, segundo a instituição hospitalar, devido a “profissionais contaminados por Covid e dificuldades para composição completa na escala”. Os médicos demitidos, contudo, garantem que não houve infecção na maternidade, e que o motivo do fechamento era a dificuldade de viabilizar uma equipe completa junto à empresa.

O médico Rui Soares Silveira, que era supervisor da maternidade e do plantão, trabalhou por 35 anos no setor da Santa Casa. Na terça, ao ser chamado para comparecer no setor administrativo, ficou sabendo da demissão. “Pensei que era uma coisa pontual, mas era para todo mundo. Fizeram uma demissão em massa, de 10 e 10 minutos, começando às 7h30min”, conta.

As mudanças no hospital, de acordo com Silveira, começaram há cerca de um mês, quando a Santa Casa contratou a empresa Promed para a cobertura de plantões, que sempre funcionaram com quatro pessoas durante o dia e três à noite.

Conforme o ex-supervisor, em 1º de janeiro o serviço funcionou apenas com profissionais contratados da Santa Casa, já que a empresa não conseguiu médicos para o plantão. Ainda de acordo com ele, quando a Promed começou a atuar no local, a diretoria da instituição garantiu que a ideia era mesclar os profissionais, com metade do serviço funcionando com a equipe existente e a outra metade com a terceirizada.

Sindicato lamenta “pejotização” na Santa Casa

A “pejotização”, como é chamada esse tipo de prática – em alusão à PJ, de pessoa jurídica – passou a ser prática comum em hospitais Brasil afora, segundo a diretora do núcleo de obstetrícia do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers), Márcia Barbosa. “É uma tendência, por questões de custo, porém, é um barato que sai caro”, adverte.

No caso da Santa Casa, perde-se um serviço que é considerado referência. “De uma hora para outra, uma estrutura muito boa, exemplar, foi desmantelada e entraram médicos que nem conhecem a Santa Casa, que não têm vínculo, não conhecem as rotinas que são traçadas ao longo de muitos anos e estudos”, explica.

Hospital explica desligamento

Já a Santa Casa de Misericórdia afirmou que o objetivo das medidas é garantir qualidade e segurança assistencial aos pacientes.

Confira a nota na íntegra:

“Todas as decisões realizadas pela direção da Santa Casa têm como prisma a garantia da qualidade e segurança assistencial dos seus pacientes. Tendo em vista a revisão da modalidade de contratos, a instituição realizou na terça-feira (4/1) o desligamento de 22 médicos obstetras, que foram substituídos já no mesmo dia por uma nova equipe, com um novo formato de contrato, vínculo jurídico e que será responsável por manter os atendimentos normalmente.

No primeiro dia da nova equipe, outras duas situações impactaram os atendimentos: a primeira delas, determinante para a redução de atendimento, foi a superlotação da UTI Neonatal; a segunda situação envolveu a redução de equipe devido à identificação prévia de dois profissionais contaminados com Covid-19. Com isso, a entrada de pacientes precisou ser restringida, sendo realizado apenas o atendimento de pacientes graves e urgentes. Nesta quarta-feira, a UTI Neonatal permanece com superlotação, o que exige a manutenção da restrição, mas a equipe de profissionais foi reposta e segue realizando todos os atendimentos necessários”.