A produtividade na pecuária nacional cresceu 2,3% ao ano na última década, enquanto entre os produtores avaliados pelo Rally da Pecuária, o ritmo foi de 5,7% ao ano. Esse crescimento é justificado pela demanda tecnológica – propriedades com alta tecnologia tendem a obter mais lucros e melhores performances. Mesmo em cenário de preços em queda, a rentabilidade é mantida em níveis satisfatórios fazendo com que, ao longo dos anos, os preços de mercado se ajustem aos pecuaristas mais produtivos.
A avaliação considera o ciclo completo – que inclui desde a produção dos bezerros até a terminação. Apesar do aumento acima da média nacional, a avaliação do Rally deste ano registrou uma queda de 16,1% na produtividade entre 2019 e 2021.
Os dados da maior expedição técnica privada brasileira dedicada a aprofundar conhecimento sobre pecuária indicam que, em razão do aumento do pacote tecnológico, produtores de ciclo completo adotaram também a recria e engorda. Essa migração para uma atividade híbrida é consequência do investimento em intensificação do ciclo completo. Como a recria e engorda é mais curta, o produtor consegue antecipar as receitas, organizando melhor o fluxo de caixa.
Ampliar tecnologia exige recursos para investimentos em infraestrutura e um aumento do orçamento anual da fazenda, segundo Maurício Palma Nogueira, coordenador do Rally da Pecuária. “Os custos da fazenda se elevarão antes que as receitas sejam efetivadas. Além da elevação no orçamento, o produtor deve investir entre R$800 e R$1.500 por hectare para cada arroba/hectare/ano em aumento de produtividade. Além disso, a dificuldade gerencial aumenta exponencialmente e a gestão dos riscos é fundamental”, explica.
É com esse aumento que o Brasil deve honrar seus compromissos com os mercados interno e externo. Em especial com a China que deve retomar grande parte dos volumes rapidamente. Em poucas semanas, as exportações para o país devem voltar a atingir níveis acima de 20% do total abatido na fiscalização federal.
Com relação à degradação das pastagens, a perda financeira anual registrada nas fazendas brasileiras aumentou 16% neste ano. Com um total de 152,9 milhões de hectares em pastagens exclusivas em uso, 5,9 milhões de hectares precisam de reforma, 14 milhões de hectares podem ser recuperadas e 67,5 milhões de hectares necessitarão de recuperação num prazo entre 12 e 48 meses.
Segundo Nogueira, dobrou a quantidade de integração lavoura-pecuária-floresta entre os produtores do Rally. “Houve aumento na adoção de técnicas de maior desempenho: a taxa de desmame melhorou, assim como o peso médio de abate. A produtividade no público do Rally da Pecuária é mais que o dobro da média. Temos 10,75 arrobas por hectare por ano, em 2021, em nossa amostra, para 4,12 arrobas/ha/ano na média nacional”, afirma o coordenador da expedição.
O consultor destaca o estudo que analisou a possibilidade de a pecuária brasileira atender todas as demandas discutidas na COP26. Em quatro dos cinco cenários analisados, a pecuária brasileira seria capaz de atender todas as demandas até 2030. No mais otimista deles, a redução de emissões relativas, por quilograma de carne, atingiria 52%, sendo que as metas globais são reduções de 30%. Nesse cenário, a produtividade atingiria a 6,9 arrobas/hectare/ano em 2030, pouco mais de 60% da produtividade atual da amostra do Rally da Pecuária.
Eventos para produtores
A 10ª edição do Rally da Pecuária teve seu formato renovado para colaborar com as medidas de distanciamento social diante da Covid-19 e foi realizada em formato digital neste ano. As pastagens foram analisadas com base em imagens de satélite, informações de centros de pesquisa e institutos de estatísticas, vistorias e dados históricos do Rally. A organização da expedição manteve as visitas aos pecuaristas, desta vez por meio de plataformas de videoconferência, enviou questionários aos produtores e realizou eventos pela internet.
Foram seis eventos regionais e seis oficinas técnicas on-line ao longo da expedição, entre 27 de outubro e 14 de dezembro, cobrindo temas relacionados à pecuária nacional, destinados a produtores de 14 estados.