Começou, no fim da tarde desta segunda-feira, o último depoimento do sexto dia de julgamento da boate Kiss, em Porto Alegre. Márcio André Jesus dos Santos é irmão do vocalista da Gurizada Fandangueira, o réu Marcelo de Jesus, e era percussionista do grupo na época da tragédia em Santa Maria. Segundo ele, a banda tinha o hábito de usar artefatos pirotécnicos quando era permitido nos locais de apresentação. “Isso nós usávamos sempre”, afirmou. Ele acrescentou que o grupo nunca recebeu instruções para não usar. “A banda já tinha usado artefato pirotécnico em outras apresentações na boate Kiss e o Elissandro Spohr, o Kiko, sabia”, completou.
O percussionista explicou que, no início dos shows, dois artefatos eram disparados do chão: “Por questão de segundos ele sobe e desce”. Conforme Santos, o grupo nunca passou som com pirotecnia. “Isso nenhuma banda faz”, disse.
Márcio contou que, na noite do incêndio, a Gurizada Fandangueira instalou os equipamentos no palco, inclusive os artefatos pirotécnicos, depois do show da primeira banda na Kiss. Na abertura da apresentação, ele explicou que eram usados dois Sputniks – o tipo de instrumento pirotécnico empregado -, um em cada lado do palco, no chão.
Questionado sobre se a banda tinha algum planejamento para problemas nos shows pirotécnicos, ele respondeu: “Não tínhamos porque nunca deu”. Quando começou o fogo, Márcio disse que alguém alcançou o extintor para Marcelo, que tentou usar, mas depois tomaram o objeto da mão dele. “Não funcionou.”
Após a tragédia na Kiss, Santos desabafou sobre o pré-julgamento que passou a receber. Ele exemplificou ao citar o filho, que na época do incêndio tinha um ano, e que nunca pôde cantar “Parabéns” para a criança, porque há sempre alguém “apontando o dedo” para a família. “Temos vontade de chegar para algum familiar das vítimas e dar a nossa verdade. Essa dor é a nossa dor. Nós não quisemos matar ninguém lá. Meu irmão não quis matar ninguém lá “, afirmou, emocionado, o percussionista.