O segundo dia do julgamento do Caso Kiss, nesta quinta-feira, foi marcado pelo testemunho de quatro depoentes. A sessão foi encerrada pelo juiz Orlando Faccini Neto às 22h10min.
Pela manhã, prestaram depoimentos dois sobreviventes: Emanuel Pastl e Jéssica Montardo Rosado.
O primeiro a depor foi Emanuel. Por ser engenheiro especializado em prevenção de incêndio, sua oitiva foi atrelada a questões técnicas e de como ele conseguiu sair vivo da boate na noite do dia 27 de janeiro de 2013. Questionado pelo juiz Orlando Faccini Neto, Emanuel, que ficou dez dias internado, relatou que o local era mal iluminado e que não conseguiu identificar a saída de emergência.
Ao ser perguntado pela defesa de um dos réus sobre aspectos técnicos da Boate Kiss relacionados a legislação vigente em 2013, ele afirmou que estava depondo como testemunha e não como assistente de perito.
Após seu depoimento, que durou pouco mais de 1h, a segunda testemunha começou a depor. Com testemunho carregado de emoção, Jéssica Montardo Rosado detalhou que viu o incêndio começar, pois estava perto do palco, e que nunca tinha visto utilização de artefato pirotécnico em eventos realizados na casa noturna.
Além disso, a testemunha, que precisou receber atendimento médico depois de ver as imagens do incêndio mostradas pelos promotores da acusação, relembrou que perdeu o irmão Vinícius na tragédia. O jovem acabou morrendo mesmo tendo conseguido sair da boate, uma vez que ele entrou novamente diversas vezes na casa noturna e conseguiu salvar em torno de 15 pessoas.
Responsável pelo projeto do isolamento acústico da casa noturna, Miguel Ângelo Teixeira Pedroso foi a terceira pessoa a depor. Na condição de testemunha arrolada pelo Ministério Público, ele afirmou que não recomendou em nenhum momento a colocação de espumas no interior da boate. Ele relatou que propôs tratamento acústico com alvenaria e gesso acartonado com espuma acústica.
Pedroso, que é Coronel do Exército da reserva e se especializou em acústica em 2012, também disse que não foi o responsável pela execução da obra, e que ficou ficou sabendo pela imprensa que a espuma usada na Kiss, inflamável, havia sido comprada em uma colchoaria.
“Falei com o delegado na época e pedi para prestar depoimento, pois queria esclarecer os fatos”, disse o coronel.
O último a depor foi Lucas Cauduro. Questionado pelo juiz Orlando Faccini sobre o seu estado psicológico após a tragédia, ele suspirou e não conseguiu falar. Para prestar o depoimento, a vítima que era DJ freelancer e prestava serviço à Boate Kiss há seis meses, teve de receber atendimento médico.
“Perdi muitos colegas, muitos amigos, muitos conhecidos”, lembrou ele, que chorou muito ao ver vídeo do incêndio na Kiss.
Em depoimento, Lucas também revelou que Elissandro Spohr (Kiko) e Mauro Hoffmann – ex-sócios da casa noturna e réus – foram os responsáveis pela sua contratação. Vale destacar que o principal argumento da defesa de Hoffmann é o de que ele era apenas investidor e não tinha poder de decisão.
O terceiro dia de julgamento da tragédia da Boate Kiss será retomado nesta sexta, a partir das 9h15min. A previsão é de que Daniel Rodrigues da Silva e Gianderson Machado da Silva – ambos testemunhas de acusação que pediram nos autos para antecipar os depoimentos – sejam ouvidos pela manhã.
Já na parte da tarde, será a vez de depor a primeira testemunha arrolada pela defesa de Marcelo de Jesus dos Santos (ex-vocalista da Banda Gurizada Fandangueira), Pedrinho Antônio Bortoluzzi. Na sequência, prestará depoimento mais um sobrevivente: Érico Paulos Garcia, que iria depor nesta quinta, mas teve seu testemunho adiado.
Momentos tensos entre juiz e advogado de defesa
A primeira discussão entre ambos se deu durante o depoimento de Jéssica Rosado. Em determinado momento, a advogado aproximou dela seu cliente, Elissandro Spohr, um dos antigos donos da Kiss, e perguntou se a testemunha o odiava. Ela respondeu que não, mas o diálogo foi interrompido pelo juiz, que afirmou que julgava a ação “apelativa”. Marques rebateu afirmando que discordava e que o juiz estava realizando “cerceamento de defesa”.
O juiz voltaria a promover uma nova discussão com Jader Marques no início da noite. Na ocasião, Neto comentava sobre a possibilidade da realização de uma pausa de 40 minutos para o jantar e ouviu do defensor que esse intervalo era apenas o tempo necessário para o deslocamento até um shopping onde ele e sua equipe fariam a alimentação.
O magistrado rebateu afirmando que o julgamento precisa ter continuidade. “A minha janta tá num ‘tupperware’ gelada e eu vou comer ela ali na sala. Então faça a sua comida e traga de casa, ou então vá comer e depois a pessoa volta”, disse, propondo alternância entre o advogado e seus assistentes. “Posso lher a minha comida se o senhor quiser”, afirmou, arrancando aplausos da plateia formada majoritariamente por parentes de vítimas da tragédia.