Mesmo com a promessa de finalizar as prévias neste sábado (27), com a escolha de um pré-candidato à Presidência da República, o PSDB pode continuar longe de conseguir emplacar um candidato viável para a disputa presidencial de 2022. Em um cenário de polarização entre o presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a chamada ‘terceira via’ tem lançado nomes e o PSDB está entre as legendas que buscam lançar ocupar o espaço entre Lula e Bolsonaro.
Nas pesquisas, entretanto, os possíveis candidatos do PSDB têm desempenho fraco e analistas políticos apontam que o racha interno — agora tornado público, com brigas e acusações entre os governadores de São Paulo, João Doria, e do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite — impossibilita que a legenda ‘junte os cacos’. Na prática, para os especialistas, o PSDB sai das prévias menor do que entrou.
Enquanto no decorrer da semana falou-se sobre o aplicativo da votação dos tucanos, que teve problema no último domingo e inviabilizou a finalização das prévias, e discutiu-se publicamente quando a votação seria encerrada, outro grupo que busca o protagonismo na terceira via começou a se projetar. Filiado ao Podemos, o ex-ministro da Justiça e ex-juiz federal Sergio foi ao Senado, discursou, reuniu-se com políticos, empresários e subiu em palanques na busca por se consolidar como o candidato mais forte da chamada terceira via.
Analista político e sócio da Hold Assessoria Legislativa, André César, afirmou que o PSDB — que já elegeu um presidente da República, Fernando Henrique Cardoso (FHC), lançando projetos emblemáticos como o Plano Real, a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) — hoje não consegue encabeçar um projeto nacional.
A situação do partido, que já vinha se deteriorando há anos, piorou de forma significativa em 2018 com a candidatura de Geraldo Alckmin à Presidência. Segundo o analista, Alckminin não tinha a força política nacional que o partido precisava, gerando uma derrota significativa, com apenas 4,7% dos votos no primeiro turno.
O partido, que já chegou a ter mais de 90 deputados federais, conseguiu eleger 29 em 2018 e hoje tem 33. E a situação entre Leite e Doria piora o cenário, segundo o especialista. “Vai levar o partido a menos deputados ainda com essa perda de consistência, que afasta o eleitor. Muitos deputados vão sair do partido, com a janela partidária. Isso é esperado”, afirma. Diferentemente do que se pode pensar, André César ressalta que a briga impacta na decisão do eleitor, que fica sem saber o que a sigla quer e tampouco o que tem a oferecer.
Com tudo isso, ele avalia que acabou a chance de os tucanos encabeçarem um projeto de terceira via. “Abriu-se uma boa faixa para outros da terceira via, que estava congestionada, em especial para Moro, a principal figura hoje”, explica.
Segundo ele, o PSDB pode até ter que desistir da cabeça de chapa e unir-se a Moro, que tem certa simpatia entre os tucanos. O governador de São Paulo, por exemplo, já condecorou o ex-juiz, em 2019, com a medalha da Ordem do Ipiranga, no grau Grã-Cruz, mais alta honraria de SP, pela atuação na operação Lava Jato.
Se os tucanos abandonarem o projeto de lançar um candidato à presidência, será a primeira vez que o PSDB fica sem representante na disputa pelo Palácio do Planalto desde a Constituinte. As chances de o partido aceitar um papel de menos destaque em uma chapa presidencial são mais concretas no caso de vitória de Eduardo Leite, que sinalizou maior abertura para discutir um possível cargo de vice, como pontua o cientista político e professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) de São Paulo, Marco Antônio Carvalho Teixeira.
O professor também ressalta que a legenda sai menor das prévias, com o aprofundamento do racha interno, e que não se vê o partido trabalhando de forma coesa. “Vai ser difícil juntar os cacos”, diz. Enquanto isso, Moro “nada de braçadas”, conforme Teixeira. “(Luiz Henrique) Mandetta já abriu mão da candidatura, Ciro (Gomes) estagnou com uma intenção de votos baixa. Não há perspectiva de outras candidatura e não tenho dúvida de que Moro vai pegar os votos do PSDB”, afirma.
Analista político do portal Inteligência Política, Melillo Dinis afirma que, com as prévias, o PSDB continua na mesma: “Sem rumo, com desconfiança entre os seus pares e sem possibilidade de dar a unidade necessária de disputa nas terceiras vias”. “Vão ficando para trás”, diz. Melillo pontua que a ideia das prévias é muito positiva, mas que acaba atrapalhando um pouco a legenda “no sentido que se perde o pouquinho que tem”.
De acordo com ele, “a briga traz desunião a um partido que nunca foi unido”. “Acaba reduzindo ainda mais as possibilidades de um candidato da terceira via”, ressalta. Enquanto isso, frisa Melilo, Moro surge em um patamar mais alto, já empatado com Ciro nas pesquisas, e com a chances de buscar apoio político de militares, ao ter o general Santos Cruz, agora filiado ao Podemos, ao seu lado.