O Ministério da Saúde deve voltar atrás na orientação de aplicar duas doses de reforço da vacina da Janssen. A nota técnica com a mudança está pronta, mas cabe ao ministro, Marcelo Queiroga, determinar a publicação. A expectativa é que a pasta aguarde a deliberação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) sobre o tema, cuja reunião está marcada para esta quarta-feira.
Na semana passada, Queiroga anunciou que quem tomou a vacina de dose única deve receber mais uma aplicação do mesmo imunizante depois de dois meses e, posteriormente, mais um reforço, cinco meses após as duas doses da Janssen.
No entanto, esta não é a orientação da própria fabricante. Na Anvisa, a Janssen submeteu pedido de autorização para reforço homólogo — ou seja, com a mesma vacina — para adultos a partir de 18 anos, no mínimo dois meses após a vacinação primária. Uma terceira aplicação não está prevista, tampouco a mistura de doses entre farmacêuticas diferentes.
De acordo com a Janssen, estudos mostraram que o reforço administrado dois meses após a dose única aumentou os anticorpos de quatro a seis vezes. “Com o reforço após seis meses da dose única, os níveis de anticorpos aumentaram nove vezes após uma semana e continuaram a subir em 12 vezes quatro semanas depois da aplicação, independentemente da faixa etária.”
A Janssen também solicitou à Anvisa a inclusão do uso do imunizante como dose de reforço para a Pfizer e da Moderna, vacinas com tecnologia de RNA mensageiro.
Após anúncio do ministério em relação à Janssen, a Anvisa emitiu uma nota solicitando à pasta os estudos que embasaram a decisão. A agência, que não chegou a ser consultada antes da orientação, sequer havia recebido o pedido da farmacêutica.
Diante da indisposição, o ministério não enviou orientações aos estados e municípios. As mais de 2 milhões de doses da Janssen com entrega prevista não chegaram a ser distribuídas, já que ficaram retidas para uma nova avaliação do Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde (INCQS).
Como os entes não receberam a nova remessa do imunizante, também não houve nenhuma aplicação precipitada com a orientação que deve ser revista.
Demais vacinas
No caso dos outros imunizantes aplicados no Brasil e que pressupõem a administração de duas doses, a orientação continua sendo uma dose de reforço para todos os adultos cinco meses após a conclusão do esquema primário. A preferência é pela administração da Pfizer como dose de reforço, podendo, na falta desta, ser aplicadas a da Astrazeneca e a da Janssen.
O Ministério da Saúde ainda precisa explicar para a Anvisa o que embasou a decisão de misturar as vacinas. Mesmo pedindo os estudos e ressaltando a necessidade de considerar a relação dos benefícios frente aos riscos individuais, a Anvisa não deixou de reconhecer que a disponibilidade de doses de reforço “é importante para a manutenção da proteção contra a Covid-19”.