População negra gaúcha tem dificuldade de acesso à educação, saúde e trabalho, diz estudo

Grupo é composto por 2,3 milhões de pessoas, ou 21% do total no Estado

Foto: UFPA/Divulgação

Mais de 130 anos após a abolição da escravatura, a população negra – termo que engloba pretos e pardos – ainda enfrenta um quadro de menos acesso à educação, saúde, mercado de trabalho e representação política no Rio Grande do Sul. Segundo o Governo do Estado, o grupo representa 21% dos gaúchos, ou 2,3 milhões de pessoas.

Para eles, a taxa de analfabetismo é maior do que entre os brancos em todas as faixas etárias, chegando a ser três vezes maior em alguns casos. Entre pessoas com 15 e 17 anos, por exemplo, a taxa é de 5,2% ante 2% dos brancos, chegando a 16% entre a população negra mais de 60 anos contra 5,2% entre os brancos.

Quando o tema é escolaridade, a população negra também está em desvantagem. No Estado, 16,4% dos brancos tinham Ensino Superior completo em 2019 contra 6,3% dos negros. Já entre a população com Ensino Fundamental incompleto, o percentual entre os negros era de 38,8% contra 31,5% dos brancos.

Saúde

Em 2019, 19,2% da população branca do Estado avaliava seu estado de saúde como “muito bom”, percentual que cai para 16,7% entre os pardos e 12,2% entre os pretos. O acesso a serviços privados de saúde chega a 30,4% entre os brancos ante 17,1% entre os pardos e 16,3% entre os pretos.

Apesar de estarem cadastradas em menor percentual na unidade de saúde da família, os domicílios da população branca recebem com mais frequência as visitas de agentes comunitários ou de algum membro da equipe de saúde da família. 34% dos domicílios de brancos receberam visitas mensais. Entre os pardos, 32%; e com os pretos, 31%.

Pandemia da Covid-19

Quanto à taxa de letalidade hospitalar em função da pandemia da Covid-19, a população preta inscrita no Cadastro Único registrou percentuais maiores do que a branca e a parda para faixas etárias mais altas. Na faixa etária entre 60 a 79 anos, a taxa chegou a 49,6% entre os pretos, 45,5% nos pardos e 45,8% entre os brancos.

Na faixa etária de 80 anos ou mais, os percentuais foram de 67,1% entre a população preta, 59,1% entre os pardos e 59,2% nos brancos. Por faixa de renda, o risco de óbito entre adultos internados com Covid-19 é 12% maior para pessoas pretas em relação a pessoas brancas na faixa de renda acima de meio salário mínimo.

“Observando o comportamento dos dados na pandemia, nas áreas da educação e da saúde, vemos que as desigualdades entre negros e brancos foram agravadas”, afirma o pesquisador do DEE/SPGG, Rodrigo Campelo.

Trabalho

Na taxa de desemprego por raça/cor no Rio Grande do Sul, o percentual é mais expressivo entre os pretos e pardos em relação aos brancos. No primeiro trimestre de 2020, o último antes dos maiores efeitos da pandemia do Covid-19, a taxa era de 13,5% entre a população preta, 12,8% entre os pardos e 7,2% entre os brancos.

No mesmo período de 2020, o rendimento médio dos negros respondia por pouco mais de 55% do rendimento dos brancos. Enquanto a renda média dos pretos era de R$ 1.996 e dos pardos, R$ 1.848 no primeiro trimestre do ano passado, entre os brancos o rendimento chegava a R$ 2.990, conforme dados da Pnad Contínua do IBGE.