A Polícia Civil, por meio da Delegacia de Repressão a Lavagem de Dinheiro (DRLD) do Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico (Denarc), deflagrou na manhã desta quinta-feira a segunda fase da Operação Irmandade, no combate à lavagem de dinheiro e ao tráfico de drogas. Cerca de 85 policiais civis cumprem 21 ordens judiciais, entre mandados de busca, prisão preventiva, indisponibilidade de contas bancárias, bens imóveis e veículo, nas cidades de Porto Alegre, Canoas, Cachoeirinha, Gravataí, São Leopoldo e Itapema/SC.
O total de ativos e bens indisponibilizados no dia de hoje pode chegar a R$ 3,2 milhões. Este montante somado aos sequestros e apreensões da fase 1 – deflagrada em julho deste ano – chega a quantia de R$ 7 milhões até o momento. O total de medidas cautelares solicitadas e efetivadas ao longo das fases 1 e 2 chega a 406.
Esta segunda fase busca atingir uma nova célula financeira de organização criminosa sediada no Vale do Sinos, no RS, que se ocupa de complexa rede de dissimulações para ocultar bens e ativos financeiros, inclusive usando de empresários, comerciantes e corretores de imóveis que atuavam dolosamente, sendo alvos na ação de hoje.
Dentre várias condutas de mascaramento de ativos e imóveis comprovados nesta segunda fase, chama a atenção pagamento de imóveis pertencentes a quadrilha gaúcha, localizados em Santa Catarina, sendo realizados por criminosos do nordeste do país, estes ligados a uma facção de amplitude nacional, bem como a retirada fraudulenta de valores em espécie de Delegacias de Polícia do Estado (apreendidos pelas polícias ostensivas em situação de transporte por laranjas), usando documentos e contratos fictícios, a fim de dar aparência lícita ao dinheiro da facção.
Nesta segunda fase também constatou-se a utilização de contas de passagem no sistema financeiro, ou seja, dinheiro em espécie sendo depositados nas contas de laranjas, bem como operadores que emprestavam seus nomes para a ocultação e venda de veículos de luxo, além de repasses/pagamento em esmeraldas entre os operadores.
A investigação
A Operação Irmandade nas suas duas fases apura a associação entre criminosos gaúchos com uma facção de amplitude nacional, com divisão de tarefas e intercâmbio de operadores logísticos e financeiros que atuam no Rio Grande do Sul e em outros seis estados brasileiros.
Um dos alvos, um baiano, que também teve a prisão preventiva decretada e cumprida pela Polícia Civil na fase 1, é um grande operador logístico da facção nacional e principal elo de ligação com os líderes desta célula gaúcha, que atuava pilotando aviões, em uma rede muito complexa de distribuição de entorpecentes nas regiões sul e norte do País, inclusive com suspeita de compra de hangares, sendo citado recentemente pela imprensa francesa. Foi captado durante a investigação um traficante colombiano encomendando grande quantidade de maconha da célula gaúcha.
Além deste elo, nas duas fases da investigação constataram-se remessas bancárias e negociações entre criminosos do Rio Grande do Sul e de outros estados, via operadores de lavagem de dinheiro, ou seja, dinheiro espúrio indo e vindo via sistema financeiro, bem como uso de doleiros gaúchos.
Dezenas de relatórios de investigação produzidos nas duas fases confirmaram uma movimentação anual ilícita de R$ 120 milhões no sistema financeiro, entre as pessoas físicas e jurídicas investigadas, além de imóveis e veículos, em constante troca de valores entre a facção gaúcha e a nacional.
O Denarc não está informando nomes no momento em decorrência da Lei do Abuso de Autoridade. Segundo o delegado Adriano Nonnenmacher, titular da Delegacia de Repressão a Lavagem de Dinheiro (DRLD), o grupo tem como característica usar bastante dinheiro em espécie para viver, abrir e fechar empresas para integrar e mesclar valores ilícitos, trocar imóveis e veículos constantemente, usar como passagem contas de pessoas físicas e jurídicas acima de qualquer suspeita, bem como usar “procuradores biônicos” nestas, ou seja, trocas sistemáticas de sócios, estes integrantes da facção nacional.
Cinco suspeitos, dentre líderes e gerentes, já foram indiciados dentro da Operação pelos crimes de tráfico de drogas, lavagem de dinheiro e crime organizado, todos com prisão preventiva decretada, sendo dois ainda foragidos. Um sexto integrante, gaúcho de São Leopoldo, alvo de prisão preventiva no dia de hoje, com funções de gerência na organização, está foragido do sistema prisional, desde a fase 1, em julho deste ano, suspeito de operações logísticas e financeiras no Rio Grande do Sul e em outros estados da federação.