Conhecido no meio político como “cumpridor de acordos”, o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, entra a semana com o desafio de solucionar o impasse que envolve a filiação de Jair Bolsonaro. Se, por um lado, está a um passo de projetar o partido a um patamar jamais sonhado, com a anunciada filiação do presidente, por outro, Costa Neto precisa manter a fama e honrar a palavra em acordos fechados com o atual governador de São Paulo, João Doria, um dos principais adversários de Bolsonaro, e com diretórios regionais do nordeste, que não abrem mão de apoiar o ex-presidente Lula.
Com Doria, Valdemar acertou o apoio à candidatura do vice-governador, Rodrigo Garcia, ao Palácio dos Bandeirantes. A aliança é impensável para Bolsonaro, hoje desafeto de Doria, e ainda compromete o projeto de lançar ao governo do estado um dos homens fortes do presidente: o ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas.
O PL, neste momento, participa da gestão de Doria, inclusive com cargos-chave. A legenda domina a área de infraestrutura e comanda o Departamento de Água e Energia, e o de Estradas e Rodagem de São Paulo – fatias de poder das quais os aliados de Costa Neto não pretendem abrir mão.
O presidente do PL também costurou acordos com lideranças petistas no Piauí e em Alagoas, onde o partido fecha com Lula. Esses diretórios regionais não admitem se submeter aos planos de Bolsonaro. E, com a anunciada intenção de ter “um partido para chamar de seu”, o presidente também rejeita qualquer composição com o PT.
Pesou na guinada de Bolsonaro – que levou ao adiamento, sem nova data prevista, do “festão de filiação” no dia 22, como chegou a ser anunciado pela cúpula do PL – a forte oposição de um interlocutor influente: Carlos Bolsonaro. O vereador, filho do presidente, fomentou a reação negativa de seguidores e apoiadores da internet – reduto importante de influência do bolsonarismo e ao qual o capitão é particularmente sensível.
“Já deu ruim” – disse ao R7 um interlocutor próximo a Valdemar Costa Neto, diante da reviravolta inesperada que joga água gelada na filiação. “Se o presidente vê problemas para entrar no PL, em outros partidos vai ter ainda mais. Ele precisa do PL”, reforçou a fonte, que falou em anonimato. O tempo também trabalha contra Bolsonaro, com adversários de peso avançando rapidamente na pré-campanha, como Lula e Sérgio Moro.