Renderam críticas os trabalhos iniciais da Prefeitura de Porto Alegre para revitalizar o Viaduto Otávio Rocha, um dos principais cartões-postais da cidade. Conforme lojistas do pavimento inferior das escadarias, a revitalização começou mal conduzida: “Chegaram aqui e jogaram tinta. Precisa lavar primeiro todo o viaduto”, observou Luis Jorge, de 68 anos, que trabalha desde 1997 na loja da Associação das Creches Comunitárias no local. “Dentro das salas a responsabilidade por melhorias é nossa, mas o lado de fora é com a equipe do Patrimônio Histórico”, acrescentou.
A opinião do lojista é seguida pelos vizinhos de porta. Há 16 anos atuando no local, Neli Guedes, de 64, lamenta o descaso do poder público. “Precisa lavar toda a estrutura antes de reformar qualquer coisa. Mas se não existir mais a cor original usada, esta ficou bonita”, minimiza, apontando para um trecho que recebeu um pouco de tinta de tom cinza.
“Colocaram os pés pelas mãos”
Mas como a obra envolve um bem tombado, as coisas não são tão simples. O presidente da Associação Representativa Cultural dos Comerciantes do Viaduto Otávio Rocha, Adacir Flores, chamou de “verdadeiro desastre” a ação com os primeiros testes para a revitalização do monumento. “Colocaram os pés pelas mãos. Imagina se essa revitalização for do jeito que começou”, questiona. “O viaduto é tombado e é preciso respeitar as identidades material e imaterial”, completa o dirigente, que é proprietário de um sebo. “A Prefeitura não vem ao nosso encontro, não quer a nossa participação”, reclama.
Diversos problemas podem ser percebidos circulando pelo ponto turístico, como infiltrações, danos no revestimento, nas obras artísticas presentes no monumento, nas calçadas, paredes, iluminação, sistema de esgoto e nas próprias lojinhas espalhadas pela área. Além disso, o viaduto é alvo de pichações e colagem de cartazes. A sujeira é outra marca característica do espaço, inaugurado há quase 90 anos, em 1932.
Material do viaduto não é feito para receber tinta
Os testes para as obras se iniciaram no dia 15 de setembro, como parte do programa Centro+, que agrupa uma série de medidas para revitalizar o Centro Histórico. Algumas partes da estrutura receberam um pouco de tinta, especialmente onde havia pichações, e cartazes foram arrancados das paredes. A tinta significou um grande problema e virou alvo das reclamações. O revestimento das paredes é de material poroso, um tipo de argamassa conhecido como cirex, que não é feito para receber tinta. Por se tratar de intervenção em um bem tombado, os trabalhos dependem da supervisão de um arquiteto.
O Ministério Público Estadual acompanha a situação por meio da Promotoria do Meio Ambiente.
“Em relação ao Viaduto Otávio Rocha, estamos tirando essas pichações e não vai ficar aquela pintura que está lá agora. Nós estamos apenas retirando os cartazes e as pichações”, argumenta o prefeito Sebastião Melo. “Então eu gostaria que a mesma crítica acontecesse em relação a quem picha a cidade, a quem cola cartazes e a quem vem aqui no Paço e não respeita o prédio municipal, que é tombado. Nós estamos dando uma demonstração de que não há espaço nesta cidade para esse tipo de pessoa. Vamos colocar uma tinta que talvez não seja adequada neste momento, mas logo em seguida virá a tinta ideal”, completou.
O secretário Municipal de Planejamento e Assuntos Estratégicos (SMPAE), Cezar Schirmer, explicou que tudo vem sendo feito para combater os pichadores. “O Centro Histórico de Porto Alegre, infelizmente, é mal cuidado, feio e inseguro. Há muita pichação e colagem de cartazes em ações de vândalos em locais inadequados, e isso também ocorre em prédios ou bens tombados”, relata. “No Viaduto Otávio Rocha estamos fazendo uma ação provisória enquanto não inicia a restauração definitiva”, comenta Schirmer, que garantiu que o Patrimônio Histórico e Cultural acompanha o andamento do projeto definitivo.
Revitalização ainda depende de licitação
O valor da restauração, apenas no Viaduto Otávio Rocha, está orçada em R$ 16 milhões. Não há uma data estipulada para a revitalização definitiva ser realizada, já que isso depende de licitação. Questionado se a estrutura do viaduto vai receber algum tipo de tinta antipichação, Schirmer disse que, em função da presença do cirex na estrutura, o processo ainda está sendo estudado: “Ainda não sabemos se a tinta antipichação é compatível com o cirex”.
A diretoria de Patrimônio e Memória da Secretaria Municipal da Cultura também se manifestou sobre essas intervenções. “Ainda na semana passada, demos início a uma avaliação de todos os aspectos relacionados ao estado atual do Viaduto Otávio Rocha. Tão pronto tenhamos terminado nosso trabalho técnico e examinado todos os aspectos das perspectivas da questão, colocaremos esses resultados à disposição das autoridades e do público.”