A elevação dos juros básicos da economia em 1 ponto percentual recebeu críticas do setor produtivo. Para entidades do comércio e da indústria, a alta da taxa Selic ajuda a retrair o consumo e ameaça a recuperação do emprego e da produção. As manifestações, porém, não foram unânimes. Para a Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs), a inflação persistente e em alta justifica esse aumento (veja detalhes abaixo).
Em nota, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) argumentou que a alta de 5,25% para 6,25% ao ano aumenta o risco de uma nova recessão, em um cenário em que nem a produção industrial, nem o emprego se recuperaram dos níveis anteriores à pandemia de Covid-19.
“Ao perseguir a meta de inflação do ano que vem com aumentos expressivos da Selic, o Banco Central põe em risco a recuperação econômica e aumenta a probabilidade de uma recessão no próximo ano”, avaliou no comunicado o presidente da CNI, Robson Braga de Andrade.
A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) traçou avaliação semelhante. Para a entidade, o aumento nos juros básicos pune as famílias e as empresas em um momento de frágil recuperação dos efeitos da pandemia e de aumento recente no Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), que incide sobre o crédito.
“O percentual da renda das famílias comprometido com dívidas é recorde. Saltou de 49,4% em junho de 2020 para 59,2% em maio de 2021, último dado disponível. O aperto monetário agrava esse quadro de endividamento, reduzindo o consumo das famílias e prejudicando a atividade econômica”, destacou a entidade.
A Associação Comercial de São Paulo também criticou a elevação da taxa Selic. Na avaliação da entidade, o varejo começa a sentir o impacto do aumento dos juros e do IOF, à medida que o crédito fica mais caro e limita o espaço para o consumo.
Firjan
Em nota, a Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) também considerou “excessivo” acelerar o ritmo de aumento da taxa. Para a Firjan, a alta da Selic pode comprometer a recuperação de uma economia ainda fragilizada. “Acreditamos que a evolução do quadro inflacionário atual e as expectativas inflacionárias à frente seguem sendo de manutenção do ciclo de alta da taxa de juros, dados os fatores relacionados ao risco fiscal e a recomposição da demanda”, admite, porém, a entidade.
A Firjan menciona fatores relacionados à inflação de custos – crise energética e restrição de insumos – que seguem “pressionando e exigindo outros instrumentos para o controle inflacionário, e não somente a elevação da taxa básica de juros”. E também defende que a estabilidade de preços e o crescimento sólido da atividade econômica passem pela retomada da confiança dos empresários, com a aprovação “inadiável” de reformas estruturais, como a administrativa.
Fiergs
Em Porto Alegre, o presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs), Gilberto Porcello Petry, avaliou, em nota, que a decisão de aumentar a Selic se deu porque, nas últimas semanas, ocorreu um novo aumento nas expectativas de inflação, influenciado pelo quadro hidrológico, pela continuidade dos gargalos nas cadeias de insumos industriais e pelo ambiente de incerteza fiscal.
“Vale destacar, ainda, que a inflação persistente, tanto para consumidores como para produtores, pode prejudicar a continuidade da retomada da economia em 2022. Dessa forma, o Banco Central age de maneira responsável no combate à pressão sobre os preços, especialmente para aliviar a elevação dos custos da indústria, evitando uma perda ainda maior em um momento tão desafiador para a nossa economia”, considerou Petry.
De acordo com o dirigente gaúcho, é importante que as discussões em torno do Orçamento de 2022 assegurem o cumprimento de todas as regras fiscais, sem ressalvas, já que o risco fiscal pode desencadear uma alta nos juros ainda maior do que a esperada.