O diretor-executivo da operadora de saúde Prevent Senior, Pedro Benedito Batista Júnior, confirmou em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19, nesta quarta-feira, que as unidades da operadora alteraram o código de classificação de doenças, preconizado pelo Ministério da Saúde, de pacientes com Covid-19. Médicos denunciaram a prática à comissão, conforme revelou o R7 na última terça-feira.
“Precisamos padronizar o CID B34.2 para todos os pacientes com suspeita ou confirmação de Covid-19 para que estes possam ser adequadamente contabilizados independente do status de exame e/ou da unidade. Reforcem com os médicos do PA para preencher a solicitação corretamente, e corrija [sic] as solicitações incorretas. Após 14 dias do início dos sintomas (pacientes de enfermaria/apto) ou 21 dias (pacientes com passagem em UTI/leito híbrido), o CID deve ser modificado para qualquer outro exceto B34.2, para que possamos identificar os pacientes que já não têm mais necessidade de isolamento. Início imediato”, cita a mensagem. Ao menos dois médicos responderam, mostra a reprodução da conversa obtida pelo R7, dizendo estar cientes da orientação.
A Classificação Estatística Internacional de Doenças (CID) citada é de infecção pelo coronavírus de localização não especificada. Benedito afirmou que a mensagem havia sido retirada de contexto, e ainda explicou: “Todos os pacientes com suspeita ou confirmados de Covid, na necessidade de isolamento, quando entravam no hospital, precisavam receber o B34.2, que é o CID de Covid, e, após 14 dias – ou 21 dias, para quem estava em UTI –, se esses pacientes já tinham passado dessa data, o CID poderia já ser modificado, porque eles não representavam mais risco para a população do hospital”.
A declaração gerou irritação do senador Otto Alencar (PSD-BA), que também é médico. “O senhor realmente não tem condição de ser médico com a desonestidade que o senhor fez [sic] agora. Sinceramente! Sinceramente, modificar o código de uma doença é um crime”, disse.
O senador Humberto Costa (PT-PE) pontuou que a empresa considera que, após o período dos sintomas, os pacientes já não morrem de Covid. “Essas pessoas que morreram, morreram de complicações de quê? De Covid! Então, é Covid!”, ressaltou. O relator Renan Calheiros (MDB-AL) frisou que o artifício é “óbvia falsificação”. Perguntado, Batista Júnior afirmou que as informações preenchidas na certidão de óbito são de responsabilidade dos médicos.