Sentado no lobby do hotel onde está hospedado em Nova York, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) assistia novamente ao discurso feito pelo pai na Assembleia-Geral da ONU menos de uma hora após a fala. Foi o filho do presidente que ajudou Bolsonaro a chegar no texto final lido no palco da ONU, segundo integrantes da comitiva. Também é ele um dos responsáveis por pensar na divulgação do material em redes de apoiadores. As informações foram publicadas pelo jornal O Estado de S.Paulo.
O roteiro inicial do pronunciamento havia sido elaborado pelo chanceler Carlos França e pelo almirante Flávio Rocha, da Secretaria de Assuntos Estratégicos. Até a véspera, no entanto, Eduardo ajudou a alterar o script do Itamaraty.
Bolsonaro não citou a doação de vacinas a países da América do Sul, algo que França defendia ser feito para se sobrepor à fala ideológica do presidente. Fontes garantem, no entanto, que esse anúncio ainda vai ser oficializado em Brasília.
Em 2019, o discurso do presidente brasileiro – com a apresentação do projeto bolsonarista ao mundo – chocou os presentes. Dessa vez, ele despertou menos atenção pelo que falou, já que repetiu muito do que vem dizendo nos últimos dois anos, e mais pelo fato de não estar vacinado e poder representar um risco para as outras delegações, inclusive para o presidente americano, Joe Biden.
Biden vem evitando contato direto com Bolsonaro desde que tomou posse. O presidente americano esteve hospedado no mesmo hotel de Bolsonaro, onde se reuniu com o Secretário-Geral da ONU, António Guterres, e esteve nos bastidores da Assembleia-Geral enquanto Bolsonaro fazia o discurso. Os dois, no entanto, não se encontraram na coxia.
Como o líder americano discursa logo após a fala do brasileiro, é comum que os dois se cumprimentem no ínterim. Foi assim que Donald Trump e Bolsonaro trocaram elogios em 2019. Ainda que rápido e protocolar, esse podia ser o primeiro encontro entre Biden e Bolsonaro, que nunca conversaram nem por telefone. Por causa da pandemia, no entanto, os líderes neste ano saíam do palco por uma porta diferente da que havia sido usada para entrar. Assessores de Bolsonaro argumentaram ter sido “apenas por esse motivo” que os dois não se encontraram.
O contato entre Brasil e EUA se deu no nível ministerial. França se reuniu com o secretário de Estado, Antony Blinken, e o ministro do meio ambiente, Joaquim Leite, se encontrou com o enviado americano especial para o clima, John Kerry.
Bolsonaro ficou novamente isolado na segunda participação presencial em Nova Iorque. Da primeira vez, em 2019, não teve nenhuma reunião bilateral. Agora, conseguiu apenas dois encontros: com o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, e com o líder de extrema-direita da Polônia, Andrzej Duda.
Após o discurso, Bolsonaro passou quase dez horas na cidade sem nenhum compromisso oficial. Saiu acompanhado pelo filho Eduardo e pelo ministro do Turismo, Gilson Machado, para um almoço privado que, segundo fontes da comitiva, aconteceu em um outlet em Nova Jersey. O presidente e os demais não publicaram fotos desse almoço nas redes sociais, diferentemente do que fizeram quando comeram pizza na rua.
Ainda na terça-feira, Bolsonaro visitou, com a primeira-dama, Michelle, o memorial de homenagem às vítimas do 11 de setembro, onde passou menos de dez minutos. Ele posou para fotos oficiais e criticou “distorções” da imprensa sobre o discurso feito pela manhã.
O presidente cogitou antecipar o voo a Brasília, mas mudou de ideia. Após dias sendo incomodado por um pequeno grupo de manifestantes que faziam protestos contra o governo, o presidente teve uma trupe de apoiadores que surgiu, ao mesmo tempo, na porta do hotel nesta terça-feira.