Horas depois da proposta de extinção de cobradores nos ônibus de Porto Alegre ser aprovada na Câmara de Vereadores, rodoviários da Carris iniciaram na madrugada desta quinta-feira uma mobilização contra a privatização da empresa. A desestatização deve ser votada ainda em setembro. A mobilização dos funcionários acontece em frente ao portão principal da companhia, no bairro Partenon, na zona Leste da cidade.
De acordo com funcionários e direção da empresa, apenas 65% da frota circula na Capital nesta quinta. Esse quantitativo havia sido acordado em reunião mediada pelo Tribunal Regional do Trabalho da Quarta Região (TRT-RS) na última terça-feira. A restrição de ônibus provoca atrasos aos passageiros em algumas linhas.
O primeiro coletivo só saiu da garagem da Carris às 4h37min, mais de 30 minutos após o horário normal. A mobilização conta com apoio de políticos da oposição e representantes de movimentos sociais e sindicais. Porém, dessa vez, o Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Transporte (Stetpoa) não participa. Os ônibus da Carris estão circulando com uma fita preta no para-brisa. Motoristas e cobradores usam máscaras com a palavra “luto” estampada em sinal de protesto.
Greve pode ser deflagrada
Funcionários da Carris vão ouvir a categoria sobre a possibilidade do início de greve a partir desta sexta-feira. A intenção seria paralisar as atividades até que o prefeito Sebastião Melo retire o projeto de desestatização da Carris. A decisão pela greve acontecerá ao longo do dia.
De acordo com Marcelo Weber, representante da comissão de funcionários da Carris, alguns trabalhadores irão buscar assinaturas em terminais de ônibus para um abaixo-assinado contra o projeto de desestatização da empresa. “A gente está fazendo a manifestação e não deixando a população desassistida como muitas outras vezes aconteceu. Então, a gente pede a colaboração da população porque a gente tem a ideia de que tirando a Carris, que é pública, o sistema ficará precarizado e as privadas cobrarão ainda mais da prefeitura aporte para os empresários. Hoje a Carris é da prefeitura e com isso ela tem o controle do que está sendo aportado”, afirma o funcionário.
Com o objetivo de minimizar o impacto da manifestação dos rodoviários, a Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) monitora a circulação e o atendimento aos passageiros de ônibus, desde as primeiras horas da manhã. A intenção é promover ações para não prejudicar a rotina dos usuários das linhas da Capital. Para isso, está previsto um esquema especial no transporte coletivo e a liberação de linhas de lotação com passageiros em pé no interior dos veículos. Outras medidas também estão sendo avaliadas.
O presidente da Carris, Maurício da Cunha, explicou que o projeto prevê a retirada gradual dos cobradores até 2026, a partir da vigência da lei. Conforme a prefeitura, dos 2.600 cobradores existentes na cidade, quase 50% poderiam se aposentar até 2026. Paralelo à isso, o executivo municipal buscará realocar os cobradores em outras funções através da oferta de cursos profissionalizantes. Ainda segundo Cunha, um plano de demissão voluntária será criado pela empresa nos próximos meses.
Através das redes sociais, o prefeito de Porto Alegre Sebastião Melo fez uma postagem lamentando a paralisação realizada pelos funcionários da Carris. “Uma das razões pelas quais estamos desestatizando a Carris é essa: a greve de hoje não aconteceria em uma empresa privada. Aliás, greve de quem recebe bem – e em dia – no meio de uma pandemia é lamentável. Quem perde é o povo”, escreveu o prefeito.
Uma das razões pelas quais estamos desestatizando a Carris é essa: a greve de hoje não aconteceria em uma empresa privada. Aliás, greve de quem recebe bem – e em dia – no meio de uma pandemia é lamentável. Quem perde é o povo.
— Sebastião Melo (@SebastiaoMelo) September 2, 2021