Presidente da Carris diz que ônibus circularam sem cobradores por falta de pessoal

Novidade havia sido anunciada como um "projeto piloto" pela prefeitura

Foto: Alina Souza/Correio do Povo

A paralisação dos funcionários da Carris, realizada ontem, expôs as dificuldades da relação entre os rodoviários e a administração de Porto Alegre. Em meio ao protesto, que reunia cerca de 200 pessoas em frente à sede da empresa, o prefeito Sebastião Melo (MDB) disse, em entrevista à Rádio Guaíba, que faria um “plano piloto” da operação sem cobradores – uma pauta que ainda tramita na Câmara de Vereadores.

A fala repercutiu entre os trabalhadores, que imediatamente declararam greve por uma suposta falta de diálogo. Na prática, a novidade de caráter experimental durou pouco: apenas três ônibus, que faziam as linhas 343, T2A e T5, circularam apenas com a presença do motorista. Em entrevista ao programa Bom Dia desta terça-feira (24), o presidente da Carris, Maurício da Cunha, disse que a própria paralisação contribuiu para a alteração.

“Nós somos obrigados a rodar com cobradores em uma situação normal. Quando há uma greve em que os ônibus não podem sair do pátio por conta da falta de pessoal, temos que optar. Ou deixamos as pessoas plantadas nas paradas, esperando um ônibus para levá-las aos seus compromissos, ou circulamos do jeito que a contingência nos permite”, justifica o dirigente, que é servidor de carreira da prefeitura.

O bloco de oposição ao governo Melo na Câmara de Vereadores estuda a possibilidade de ingressar com um processo de improbidade administrativa pela ausência de cobradores nos três coletivos. Isso porque, conforme os parlamentares, a presença dos servidores está prevista na Constituição como indispensável e obrigatória. Um projeto para mudar este aspecto do sistema de transporte público da Capital tramita no Legislativo.

Déficit

Segundo a Carris, 107 mil pessoas são atendidas pela empresa nos dias úteis – quando há 176 carros nas ruas. Ontem, em razão da paralisação, apenas 70 coletivos cumpriam os itinerários da estatal. Além da matéria que prevê a extinção gradual da função de cobrador no município, os rodoviários se opõem à desestatização da companhia. A greve só foi interrompida após um acordo, que prevê 10 dias de negociações entre as partes.

“A prefeitura entende que uma empresa pública precisa ser rentável. Há uma discussão sobre a necessidade do lucro, mas é claro que precisa ter. Uma empresa precisa não ser deficitária, como é o caso da Carris. Só neste ano, já consumimos mais de R$ 40 milhões. Temos um grupo de funcionários e uma frota muito grandes e, no ano passado, não conseguimos fazer um plano de contingência mais amplo”, explica Maurício da Cunha.

O embate fez com que o Executivo municipal publicasse, no Diário Oficial, um decreto de requisição de bens, serviços e empregados das empresas de transporte coletivo, lotações e transportadores escolares. A ideia é evitar a descontinuidade dos serviços em Porto Alegre. Em caso de necessidade, os bens, serviços e pessoal requisitados serão especificados pela EPTC, podendo ser prestados em todas as regiões da cidade.