Cinco dos 11 integrantes do Conselho Superior do Ministério Público Federal (CSMPF), dentre eles os três subprocuradores-gerais que compõem a lista tríplice de indicados da instituição ao cargo de procurador-geral da República, encaminharam um documento ao atual ocupante do cargo, Augusto Aras. Nele, pedem que a PGR investigue o presidente Jair Bolsonaro pelo crime de abuso de poder de autoridade nos recentes ataques ao sistema eleitoral. Na petição, é mencionada a possibilidade de o MPF solicitar a inelegibilidade e a cassação do registro de candidatura do presidente, caso seja confirmado o crime eleitoral.
“Daí a necessidade do olhar do Ministério Público Eleitoral, numa perspectiva preventiva, a fim de detectar, nos fatos ora noticiados, elementos potencialmente caracterizadores de ilícito eleitoral, tendo em conta a proteção do regime democrático e seus instrumentos de realização, a fim de municiar-se para eventual arguição de inelegibilidade e cassação de registro de candidatura”, cita o documento.
Em outro trecho, o grupo menciona o Ministério Público Eleitoral: “se há ameaça à própria realização do processo eleitoral por parte de quem exerce um cargo público de elevada envergadura constitucional, urge a atuação investigatória do Ministério Público Eleitoral”.
A petição enfatiza o caráter preventivo da legislação eleitoral, cujo poder não se restringe a apenas corrigir as condutas perigosas à regularidade das eleições. Segundo os membros do MPF, o abuso de poder ocorre “de forma multifacetada, podendo o presidente incorrer no crime ao tentar subverter as instituições por meio da supressão das regras do jogo democrático”.
“As declarações do sr. Presidente da República parecem ultrapassar os limites do mero [e intangível] exercício do direito constitucional à liberdade de expressão”, escrevem os subprocuradores-gerais em outro trecho da petição.
No documento, são citados momentos em que Bolsonaro se valeu da alegação de fraude nas eleições para pressionar o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) a atender a demanda do governo de utilização do voto impresso no pleito do ano que vem.
Os subprocuradores-gerais dizem que as declarações do presidente contra o atual sistema eleitoral põem em risco a estabilidade das eleições no país, gerando estado de insegurança.
O documento assinado pelos membros do Conselho Superior pressiona o procurador-geral da República a tomar providências contra o presidente. No início do ano passado, Augusto Aras solicitou a abertura de inquérito para apurar a falta de oxigênio em Manaus depois de ser cobrado pelo órgão.
Ignorados há dois anos, os candidatos de lista tríplice da Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR) – e assinantes do documento – defendem que Bolsonaro considere as indicações da categoria como forma de dar mais lisura ao processo de escolha do próximo PGR.
Apesar de recorrerem a Aras hoje, os três candidatos – Luiza Frischeisen, Mario Bonsaglia e Nicolao Dino, já expuseram que ele se furtou do protagonismo exigido da PGR, especialmente, no contexto de combate à pandemia de Covid-19.
*Com informações da Agência Estado