Mesmo depois de ser desmentido pelo Tribunal de Contas da União (TCU), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) voltou a insistir na tese de que as mortes pela Covid-19 no Brasil podem ter sido supernotificadas, em até 50%, segundo uma tabela forjada por um auditor do tribunal, já afastado.
Como um dos argumentos, ele citou novamente a lei complementar que garante mais recursos do Ministério da Saúde aos estados com maior número de óbitos pela doença. Bolsonaro também repetiu a tese da suposta anormalidade nos dados de óbitos ocorridos no país.
“Dados oficiais de óbitos de 2015, 16, 17, 18, 19 e 20, ano a ano, há um crescente. Esse número é crescente, o que é natural. E variava aqui de 4% em relação ao ano anterior, 13%, 15%. Agora se vocês pegarem o número de óbitos de 2020 e tirarem aproximadamente 200 mil óbitos de 2020, o número de óbitos em relação a 2019 é negativo, é decrescente”, disse. “É mais outro indício robusto de supernotificação. Apesar desse documento extenso do TCU, repito, não ser conclusivo”, completou.
Depois que o presidente citou o relatório pela primeira vez, na segunda-feira, o TCU o desmentiu, afirmando que a análise não consta em documentos internos da Corte. Na terça, o órgão reiterou a informação e explicou que a tabela usada pelo presidente com a suposta supernotificação de 50% das mortes foi produzida por um auditor, de forma preliminar, para ser discutida pela equipe. A partir daí, o documento vazou para fora do TCU.
Em nota, o tribunal ainda disse que as informações do documento não tiveram respaldo de fiscalizações do tribunal. Também na terça, Bolsonaro admitiu o erro ao citar a tabela, mas insistiu na suspeita e defendeu investigação sobre as mortes.
O servidor Alexandre Figueiredo Costa Silva Marques, que elaborou a tabela, foi afastado por 60 dias e é alvo de um processo administrativo-disciplinar. O TCU ainda pediu que a Polícia Federal investigue o caso.