UFMG desenvolve teste que detecta, pela urina, se paciente teve Covid-19

Pesquisadora garante que teste é mais simples e barato, além de menos invasivo

Foto: Divulgação

A Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) anunciou hoje ter obtido a patente para um novo teste voltado para o diagnóstico da Covid-19. O exame é capaz de detectar a presença de anticorpos que combatem o novo coronavírus nas amostras de urina dos pacientes.

A pesquisa que levou ao desenvolvimento do teste e comprovou os resultados satisfatórios integrou o pós-doutorado da bióloga Fernanda Ludolf na Faculdade de Medicina da UFMG, sendo realizada em interlocução com outras instâncias da universidade, como o Instituto de Ciências Biológicas e o Hospital das Clínicas. Contou ainda com o reforço de pesquisadores que vêm se debruçando sobre estudos envolvendo a Covid-19, como os infectologistas Eduardo Coelho e Vandack Alencar e o virologista Flávio Fonseca.

Segundo Fernanda, foram analisadas 240 amostras de aproximadamente 150 pacientes. A sensibilidade chegou a 94%, o que significa que, de cada 100 pessoas que tiveram contato com o novo coronavírus, 94 foram identificadas pelo teste. Também se obteve uma especificidade de 100%, ou seja, não houve nenhum caso em que o resultado positivo detectou uma doença diferente da Covid-19.

“Não estamos detectando o coronavírus em si. Então o que podemos falar a partir desse exame é que o paciente teve contato com o coronavírus e que ocorreu a conversão imunológica. Ele produziu anticorpo”, explica a bióloga. Ou seja, um resultado positivo não significa que a pessoa ainda está infectada, já que o organismo pode ter eliminado o invasor.

O teste é baseado no método conhecido como Elisa (Enzyme-Linked Immunosorbent Assay ou, em português, Ensaio de Imunoabsorção por Ligação Enzimática). Ele difere do método RT-PCR, que se vale de um swab nasal para coletar uma amostra de secreção respiratória na qual o novo coronavírus pode ser detectado. Esse é o exame que vem sendo mais indicado pelas autoridades sanitárias para avaliar se a infecção está ativa.

O novo teste é uma alternativa aos exames sorológicos que se valem de amostras de sangue. Eles também são voltados a detectar anticorpos e avaliar a resposta imunológica. O estudo realizou comparativos entre essas duas possibilidades. Segundo Fernanda, os resultados foram similares: usando amostras tanto de urina como de sangue, foram identificados anticorpos antes do período de 20 dias após o início dos sintomas da Covid.

Segundo a pesquisadora, o novo teste é mais simples, mais barato e menos invasivo do que os exames sorológicos atualmente em uso. Ele não necessita de agulhas e seringas, o que torna o custo mais baixo, a coleta mais prática e a utilização possível mesmo em áreas mais remotas do país. Além disso, as amostras de urina são de fácil conservação. O exame é também pioneiro no mundo. A pesquisadora explica que a presença de anticorpos na urina é comum em outras doenças, mas ainda havia pouca investigação se essa situação ocorre também com a Covid-19.

De acordo com a Coordenadoria de Transferência e Inovação Tecnológica (CTIT) da UFMG, já tiveram início as negociações com laboratórios das áreas de saúde e biotecnologia para que a novidade possa ser colocada à disposição da sociedade. Uma vez estabelecida a parceria, o teste precisa ainda ser avaliado e aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).