Salles tornou ‘legítima’ ação de criminosos, avalia delegado da PF

Alexandre Saraiva, que enviou notícia-crime ao STF sobre atuação do ministro na Amazônia, falou à Câmara dos Deputados

O delegado Alexandre Saraiva, da PF | Foto: Youtube / Reprodução

O delegado da Polícia Federal (PF) e ex-superintendente no Amazonas, Alexandre Saraiva, afirmou, nesta segunda-feira, que o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, “tornou legítima a ação de criminosos” que fazem a exploração ilegal de madeira na Amazônia. A afirmação se deu em depoimento à Comissão de Legislação Participativa na Câmara dos Deputados.

Saraiva teve a demissão anunciada após enviar uma notícia-crime ao Supremo Tribunal Federal (STF) contra o ministro. Ele coordenou a Operação Handroanthus, que resultou em apreensão recorde (mais de 220 mil metros cúbicos) de toras na região.

Alexandre Saraiva explicou que Salles compareceu ao local e acabou interferindo no trabalho, trabalhando no sentido da liberação da carga apreendida. O ministro se reuniu com empresários madeireiros, que alegaram se tratar de corte legal, e prometeu uma rápida revisão da documentação.

“Ele foi até a área, fez uma ‘pseudoperícia’. De 40 mil toras, olhou duas e disse que conferiu. Que a princípio estava certinho, que as pessoas apresentaram escrituras”, afirmou Saraiva nesta segunda. O delegado ressaltou que, no entanto, identificou-se que as madeiras vinham de grandes áreas de grilagem.

Saraiva prosseguiu nas críticas ao ministro, afirmando que ele agiu da forma inversa do esperado, sem dar respaldo à fiscalização. “O senhor ministro fez uma inversão, tornou legítima a ação dos criminosos, e não dos servidores públicos. Então, em linhas gerais, e sendo bem preciso, foi isso que nos motivou a fazer essa notícia-crime”, disse. O Ministério do Meio Ambiente afirmou que Salles vai responder às acusações feitas na Justiça.

Queixa-crime

No dia 14 de abril, o delegado enviou ao STF um pedido de investigações contra o ministro Ricardo Salles. No dia seguinte, a direção da Polícia Federal decidiu substituí-lo como Superintendente Regional do Amazonas.

A notícia-crime aponta três possíveis delitos: dificultar a ação fiscalizadora do poder público no meio ambiente, exercer advocacia administrativa e integrar organização criminosa.