Pesquisadores do Laboratório de Biologia Molecular do Instituto de Pesquisas Biomédicas do Hospital Naval Marcílio Dias, do Laboratório de Imunofarmacologia da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e médicos veterinários da Clínica Rio Vet avaliaram 311 animais domésticos para a Covid-19.
O objetivo da pesquisa é verificar se animais domésticos, como cachorros e gatos, podem ser infectados pelo SARS-CoV-2, causador da doença. “E, sendo possível a infecção, identificar quais mutações foram necessárias para a passagem do vírus entre as espécies”, informou a veterinária Luciana Myashiro, da Rio Vet, responsável técnica pelo projeto.
Segundo a bióloga virologista do hospital, primeiro-tenente Shana Barroso, a análise usou a técnica RT-qPCR. Os resultados preliminares, que mostraram uma taxa de infecção maior que as relatada em trabalhos já publicados, podem contribuir de forma relevante para o entendimento da infecção de cães e gatos pelo vírus, dizem os pesquisadores.
Investigação
O estudo completo prevê a investigação de cães e gatos domésticos infectados por SARS-CoV-2, verifica a presença de anticorpos contra o vírus e se são capazes de neutralizar o vírus. “Faremos também o sequenciamento do material genético viral encontrado nos animais para avaliar possíveis mutações ou a presença de variantes”. Por fim, vai ser feita a detecção de anticorpos IgM e IgG, que são reagentes positivo e negativo, respectivamente. Os tutores serão indagados sobre histórico de Covid-19 em pessoas que tenham contato próximo aos animais de estimação.
Luciana Miashiro explicou que São João de Meriti deu partida à pesquisa por ser a terceira cidade com maior densidade populacional do Brasil. “Estima-se que [o município] tenha 85 mil animais. Além disso, estávamos em busca de uma clínica [em] que os profissionais abraçassem a pesquisa e acreditassem na sua importância e que tivesse credibilidade no mercado”. Segundo Luciana, avaliações positivas em sites especializados levaram à Clínica Rio Vet, que aceitou colaborar com o projeto.
O teste molecular para detecção do novo vírus é oferecido aos tutores que vão ao local para levar cães e gatos para consulta ou atualização do calendário de vacinação. Após a assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido de que a pesquisa teve autorização prévia da Comissão de Ética no Uso de Animais (CEUA) do Hospital Naval Marcílio Dias, o material é coletado para análise, majoritariamente via swab retal.
Transmissão
Luciana disse que o número de casos positivos encontrados pela pesquisa é alto, quando comparado ao de estudos similares já publicados em outros países. A veterinária destacou, entretanto, que todas as pesquisas publicadas até hoje mostraram chances praticamente nulas de transmissão do vírus de animais domésticos para o ser humano. “Até agora, não temos conhecimento de evidências científicas de que os animais domésticos possam se tornar reservatórios do SARS-Cov-2.” Também não há comprovação de que a doença possa levar os animais à morte.
A pesquisa, uma das selecionadas pela chamada emergencial da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro, recebeu aporte financeiro de R$ 250 mil. O estudo vai ser ampliado para mais quatro regiões, ainda não definidas, do Rio de Janeiro.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), animais domésticos não transmitem a Covid-19 para seus donos, mas estes são capazes de transmiti-la aos animais que, de uma forma geral, não desenvolvem sintomas mais graves. Estudos da literatura já identificaram o SARS-CoV-2 em tigres e leões de zoológicos, informaram os pesquisadores.