O chefe da Polícia Federal no Amazonas, Alexandre Saraiva, encaminhou, nessa quarta-feira, notícia-crime ao Supremo Tribunal Federal (STF) contra o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, por atrapalhar a investigação de madeireiros envolvidos na operação Handroanthus, que apreendeu 43,7 mil toras de madeira supostamente ilegal.
Nas 38 páginas do documento, Saraiva defende a legalidade da operação e pede pela investigação do ministro, citando diversas críticas públicas e ações do ministro Salles contra a operação.
“Com efeito, além de omitir-se de exercer seu poder de polícia ambiental, dificultando ação de fiscalização ambiental, patrocina diretamente interesses privados (de madeireiros investigados) e ilegítimos no âmbito da Administração Pública”, menciona o delegado, que também acusou o senador Telmário Mota (Pros-RR) de atrapalhar a investigação ao articular madeireiros contra a PF.
O delegado aponta indícios de três crimes cometidos pelos políticos: dificultar fiscalização de questões ambientais; patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado perante a administração pública e integrar a suposta organização criminosa atingida pela operação. O ministro e o senador se defendem das acusações reafirmando críticas à apreensão para garantir segurança jurídica ao setor madeireiro.
A operação ocorreu em dezembro do ano passado, com apreensão recorde de madeira supostamente transportada ilegalmente. Salles sofreu pressão de senadores, deputados e os proprietários dos produtos pela suposta ilegalidade da operação. Os madeireiros enquadrados alegaram ter regularizado os planos de manejo das áreas.
Nesta reunião, os lobistas demonstraram documentos comprovando a legalidade da exploração. A perícia da PF, no entanto, encontrou indícios de fraude na titulação dessas terras.
A PF não teve os argumentos aceitos pelo ministro e pelo senador, que nas semanas seguintes continuaram a criticar abertamente a operação em redes sociais e cobraram por mais rapidez na finalização do inquérito.
Outro lado
Em nota, o senador Telmário Mota chamou a notícia-crime de Alexandre Saraiva de “patética” e considerou a atitude do delegado autoritária. “O delegado cria suas próprias leis criminalizando todo um setor, sem distinção de quem está dentro da legalidade ou não, causando assim, a falência de diversas empresas e deixando mais de 15 mil trabalhadores desempregados, apenas em Roraima, numa época de crise mundial”, afirmou.
O R7 procurou o ministério do Meio Ambiente, mas ainda não recebeu resposta. Em entrevistas à imprensa, o ministro Ricardo Salles afirmou que as empresas investigadas demonstram sinais de atuação legal, que só busca garantir segurança jurídica ao setor e que aguarda a conclusão da investigação da PF.