Me contaram esta de “cabo de esquadra”: diz que o Haroldo veio para a cidade grande tentar o vestibular de Medicina,e se bandeou para uma “pensãozita” no centro, onde conheceu a D. Ambrósia, uma senhorinha já passada da idade e com muitas dificuldades pela saúde um tanto abalada. A velhinha era hóspede da casa já de há muito e logo simpatizou com aquele rapagote chegado do interior.
Alguns meses se passaram e o estado de saúde da idosa piorou e muito. Um dia, já bem adoentada, procurou o estudante e fez-lhe um pedido.
-” Haroldo, meu filho, amanhã vou baixar no Hospital e não sei nem se saio viva de lá. Me sinto mui fraca e cansada e entregue às traças, por isso te peço um favor: pega estes quinhentos contos que é tudo que eu consegui guardar e paga o meu enterro e eu me finar. Mas quero um caixão bem lindo. Como não tenho ninguém por mim, te peço que fiques com esses pilas pra me fazer a olada.
O rapagote aceitou o dinheiro e prometeu cumprir o pedido da dona Ambrósia.
Alguns dias depois de fato, a velhinha bateu com a caçuleta e subiu ao andar de cima para onde vão os que passam para o outro lado do véu.
Como d. Ambrósia havia nomeado o rapaz para qualquer eventualidade, logo foi avisado pelo Hospital que o corpo já estava no necrotério.
Chegando lá, o funcionário indagou do jovem: – Por “acauso” a falecida era tua parenta? e ele explicou contando o trato feito entre eles.
-Perguntei porque está para sair um curso de cirurgia e o cadáver dela, flaquito desse jeito, dá um baita material para um estudante de medicina praticar. Porque não deixas a criatura aí ? Qualquer candidato ao concurso te daria duzentos contos por ela.
Haroldo, assim, encaçapou setecentos pilas na guaiaca.
Nem que me espremam conto quem é, pois hoje ele é decano da medicina em sua região….