Os juros do cheque especial caíram mais do que a metade entre janeiro de 2020 e janeiro de 2021. Por conta das novas regras estabelecidas para a modalidade de crédito — que fixaram o teto de 8% ao mês, equivalente a 151,8% ao ano —, a taxa, que em novembro de 2019, período anterior a limitação, marcava 306,6% ao ano, diminuiu para 113,6% ao ano em novembro do ano passado.
Para efeito de comparação, considerando a taxa de novembro de 2019, uma dívida de R$ 1.000, adquirida em novembro daquele ano, custaria R$ 4.066 doze meses depois se as condições permanecessem iguais. Ou seja, o valor seria quatro vezes maior.
“A regulamentação de linhas emergenciais de crédito existe tanto em economias avançadas como em outros países emergentes. O sistema antigo do cheque especial, com taxas livres, não favorecia a competição entre os bancos. Isso porque a modalidade é pouco sensível aos juros, sem mudar o comportamento dos clientes mesmo quando as taxas cobradas sobem”, explica o Banco Central (BC).
Por conta do novo limite, os juros do cheque especial chegaram a cair por quatro meses consecutivos, de abril a junho do ano passado. Nesse período, a taxa chegou a 112,7% ao ano, ou seja, expressivamente menor do que os juros praticados anteriormente ao teto.
Até novembro, mês referente à ultima análise feita dos juros do cheque especial pelo Banco Central, a taxa variou entre 112% e 114% ao ano. Na última divulgação, os juros do produto de crédito atingiram 113,6% ao ano, referente ao mês de novembro.
No mesmo exemplo anteriormente, uma dívida adquirida em novembro do ano passado, no valor de R$ 1.000, chegará a custar R$ 2.136 em um ano, caso as condições se mantenham. O valor é mais de duas vezes maior do que o original e menor do que seria há um ano. Porém, ainda assim, elevadíssima.
Bola de neve
O Banco Central explica que o teto de juros pretendia tornar o cheque especial um produto de crédito mais eficiente e menos prejudicial para população mais pobre, que acaba por ser a que mais utiliza o produto e a que mais se endivida posteriormente, formando a famosa “bola de neve”.
No entanto, apesar do teto de juros, o cheque especial, ao lado do cartão de crédito, ainda é um dos produtos de crédito mais caros disponíveis no mercado.
“Essa preferência [pelo cheque especial e cartão de crédito] tem duas explicações. A primeira é o baixíssimo nível de educação financeira e total desconhecimento do assunto. E a segunda é que muitas vezes não é preferência, mas, sim, desespero. A pessoa já está pendurada em uma linha de crédito, vai atrás de outra para arrolar dívida e assim sucessivamente”, explica Arthur Igreja, professor convidado da Fundação Getulio Vargas (FGV).
Para o BC, o novo conjunto de regras, que completa um ano, continua a ser uma oportunidade para reflexão do cliente. “É a hora de verificar se o limite que está sendo disponibilizado é adequado ou não e rever. Mesmo tendo essa redução da taxa de juros, vale verificar também se não há uma alternativa mais adequada a sua necessidade”, afirma o banco.