A paralisação de atividades econômicas durante a pandemia de Covid-19 afetou principalmente os jovens brasileiros. O grupo é o destaque negativo nos mais de 14 milhões de pessoas sem emprego no país. Segundo os dados da Pnad Covid, divulgados nesta semana pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 24,2% do grupo economicamente ativo entre 14 e 29 anos estavam desempregados em novembro. Em maio deste ano, o percentual era de 18,4%.
O desemprego se alastrou por todas as faixas etárias, mas de forma mais acelerada para quem tem essa idade e quer trabalhar. Hoje, eles representam 49% das pessoas que não acham serviço, apesar de procurarem. Eram 47,8% do total em maio. Colocando números absolutos na explicação, vê-se que, de acordo com a planilha do IBGE, a juventude das 27 unidades da federação é responsável por 6,8 milhões de todos os 14 milhões de brasileiros desempregados.
Na sequência vem o grupo de 30 a 49 anos, com 5,3 milhões (38%); 50 a 59 são 1,1 milhão (9,7%) e com 436 mil com mais de 60 (3,3%). Os dados são mais relevantes se for levado em conta que o primeiro grupo a entrar no mercado de trabalho nacional sequer é o que tem maior número de integrantes.
A população ocupada do país estava em novembro em 84,6 milhões de brasileiros, mais da metade entre 30 e 49 anos (44.056.000), grupo que, por sua vez, supera o dobro de jovens de 14 a 29 anos (21.582.000).
Mais 2 milhões de jovens na fila
O salto na quantidade de desempregados jovens partiu de 4.846.000 pessoas em maio para 6.876.000, alta superior a dois milhões. Em outra análise, percebe-se que dos quase 4 milhões de desempregados que o país somou (10,1 milhões em maio e 14 milhões em novembro) durante a pandemia, mais da metade tinha entre 14 e 29 anos.
Todos as idades mostraram aumento nas desocupações, mas em ritmo bem mais lento. De 30 a 49 anos, a Pnad Covid encontrou 3,8 milhões de desempregados em maio e 5,3 milhões seis meses depois. Na mesma comparação, no público de 50 a 59, eram 990 mil e foram a 1.365.000; com 60 para cima, a variação foi de 427 mil para 463 mil.
A dificuldade em encontrar uma ocupação mostra que rapazes e moças estão cada vez mais desanimados em relação ao mercado de trabalho. Se em maio 12,9 milhões desses desempregados procuravam vaga, em novembro o total caiu para 11,3 milhões. Nesse grupo, apenas 3,5% foram para casa trabalhar de forma remota em suas empresas. Na categoria acima de 60 anos esse percentual aumenta para 4,8%.
A pesquisa aponta também a quantidade de pessoas que trabalham de maneira informal, sem carteira assinada. Se 34,5% da força produtiva do país está nessa situação, com pouca segurança para planejar o futuro e sem benefícios socais, a participação dos jovens é ainda maior, chegando a 39% (ou 8,4 milhões) no penúltimo mês de 2020. O percentual só é maior entre os que têm mais de 60 anos: 50,7%.
E o salário, ó
A pandemia confirmou não haver vantagem em ser um jovem trabalhador brasileiro. O rendimento médio dessa faixa, considerando a totalidade de serviços de pessoas ocupadas durante a pandemia, ficou em R$ 1.530 em novembro, bem abaixo do valor geral de R$ 2.334.
O vencimento representa também menos de R$ 1 mil mensais em relação a todos os outros grupos. De 30 a 49, o vencimento médio ficou em R$ 2.558. De 50 a 59, R$ 2.632. Acima de 60, R$ 2.896. Os ocupados mais velhos, aliás, foram os únicos que tiveram ganho de rendimento (ignorando as perdas com a inflação, não contabilizadas no levantamento do IBGE). Em maio, a valor era de R$ 2.855 e passou a R$ 2.896.
Apenas R$ 41 de diferença, mas resultado melhor que o da faixa de 14 e 29, com queda de R$ 35 no salário; de 30 a 49, ficou R$ 63 a menos; ou de 50 a 59, que quase empatou o saldo em seis meses, mas fechou o período com R$ 3 de perda.