Os reflexos da pandemia do novo coronavírus persistem no transporte coletivo de Porto Alegre. As empresas de ônibus registraram queda brusca no número de usuários, que passou de 800 mil passageiros por dia, em março, para 330 mil, em setembro. A Associação dos Transportadores de Passageiros de Porto Alegre (ATP POA) calcula prejuízo de R$ 67 milhões ao setor, que chegou a operar com apenas 25% da capacidade normal durante a epidemia.
Com a retomada gradual das atividades econômicas e acordo judicial firmado entre prefeitura e consórcios privados de ônibus Via Leste, MOB, Mais e Viva Sul para manter as linhas operando, a expectativa agora é de que o número de passageiros volte a subir. De acordo com o engenheiro de Transporte da ATP, Antônio Augusto Lovatto, o cenário vem melhorando e atualmente o setor opera com 40% da capacidade. O aporte de R$ 39,4 milhões, nos próximos seis meses, correspondentes à diferença de custeio decorrente dos efeitos da pandemia, vai ajudar a socorrer o transporte público.
De acordo com Lovatto, a retirada de 3% da Câmara de Compensação Tarifária, que deve reduzir passagem de ônibus em R$ 0,15, também é considerada parte da solução de um problema maior. “Todos concessionários sofreram algum tipo de prejuízo e estão com dificuldades”, salienta. Apesar da medida, ele projeta que, que em princípio, a desoneração não vai trazer grandes resultados, uma vez que são dois anos sem reajustes das tarifas em Porto Alegre. O acordo com a prefeitura também determina que as empresas abram mão do reajuste tarifário em 2020.
Na avaliação de Lovatto, o que vai atrair novamente os passageiros é um conjunto de ações que envolvem, entre outras coisas, desonerações da tarifa. “Algumas coisas temos que ceder, mas o acordo firmado direcionou a questões importantes para o transporte público de Porto Alegre”, reforça, destacando para correção de aspectos e premissas de cláusulas históricas retrógradas. Conforme Lovatto, o repasse de recursos vai garantir que as empresas ‘salvem’ algumas dívidas que acumularam durante a pandemia e o pagamento de trabalhadores.
Apesar dos avanços nas negociações, como o pagamento pela Empresa Pública de Transportes e Circulação (EPTC) das ordens de serviço, em uma forma de cobrir a diferença entre receita e custo, Lovatto adverte que sem mudanças estruturais no sistema de financiamento e na regulamentação dos serviços, os problemas de mobilidade vão continuar.
“Desconheço uma cidade no mundo que tenha sistema de transporte eficiente, de qualidade, 100% financiado pelo usuário, porque Porto Alegre é 100% financiado pelo usuário”, compara. Ele cita exemplos de Curitiba e São Paulo, que reduziram a oferta a partir de um fundo para complementar financiamento ao setor. “É preciso um sistema de regulamentação maior. E aí me refiro diretamente ao Uber”, completa, frisando a concorrência com o aplicativo de transporte.