A comparação é inevitável. Apesar de o Inter viver um momento favorável na análise propriamente dita das competições, onde ocupa melhor posição tanto no Campeonato Brasileiro quanto na Libertadores da América, o Grêmio tem ampla vantagem quando é levado em consideração apenas o retrospecto recente dos confrontos entre eles. São nove Gre-Nais, dois anos de invencibilidade. Tamanha hegemonia encorajou jogadores gremistas e até o técnico Renato Portaluppi a transportar as provocações e as “cornetas” das arquibancadas para o vestiário, acirrando ainda mais a rivalidade entre os dois clubes.
Poucas vezes se viu os vencedores tripudiarem tanto sobre os perdedores na história do maior clássico gaúcho, que viverá mais um capítulo amanhã, no Beira-Rio, onde as duas equipes se enfrentarão pela 427ª vez. Se vencerem o jogo válido pela fase classificatória do grupo E da Libertadores, os gremistas mais uma vez devem provocar os rivais em entrevistas e nas redes sociais.
Por outro lado, os colorados têm a chance de dar um basta na série negativa dentro do campo e nas chacotas das quais são alvo há dois anos fora dele. Exemplos não faltam. Em fevereiro deste ano, após nova vitória sobre o Inter pelo Campeonato Gaúcho, os jogadores gremistas, ainda sobre o gramado do Beira-Rio, voltaram a cantar música que é repetida desde a conquista da Libertadores de 2017: “Um minuto de silêncio para o Inter que está morto”. As imagens viralizaram nas redes sociais, varreram o Rio Grande do Sul em grupos de WhatsApp.
Outro exemplo? Alguns meses antes, Alisson postou, em sua conta no Instagram, apenas instantes após o Inter deixar escapar o título da Copa do Brasil ao perder para o Athletico Paranaense, dentro do Beira-Rio, uma foto sua com a taça do torneio, conquistada quando ele ainda era jogador do Cruzeiro.
As provocações viraram quase uma regra nos últimos tempos. Maicon, um dos líderes de elenco gremista, é um dos mais assíduos quando o tema é desafiar os rivais. Neste ano, após vitória gremista por 2 a 0 na Arena, pelo Gauchão, postou nas redes um vídeo dentro do vestiário no qual comenta a atuação do Inter: “Perderam de novo”. Enquanto ele fala, os demais jogadores cantam o “Um minuto de silêncio”. No mesmo dia, Matheus Henrique postou uma foto nas redes sociais, com o comentário “Atura ou surta, já são 9” referindo-se à sequência invicta.
O fenômeno ganha proporções maiores em tempos de redes sociais. Com a gangorra pendendo vigorosamente para o seu lado, os gremistas não perderam as chances de tripudiar sobre os colorados, que, em geral, tiveram que escutar quietos.
Não houve outro jeito diante da fragilidade demonstrada pelo time em campo. Em alguns momentos, o Inter deu demonstrações, inclusive, de uma certa fragilidade psicológica provocada pela sequência negativa. Parece faltar poder de reação para superar o mau retrospecto diante do rival. Tanto que até quando joga melhor, não consegue vencer, como no primeiro Gre-Nal válido pela Libertadores, quando o Inter foi melhor, criou mais chances, mas não conseguiu marcar os gols. O jogo de março na Arena terminou 0 a 0, e a briga generalizada que marcou a noite contribuiu para deixar os ânimos ainda mais acirrados.
Eduardo Coudet não tem responsabilidade por toda a sequência negativa. Sob o seu comando, porém, já são quatro Gre-Nais, com três derrotas e um empate, todos em 2020. Ele promete uma reação, mas sem perder a linha.