Pesquisa brasileira revela ineficácia da azitromicina contra Covid-19

Antibiótico testado em pacientes graves mostrou mesmo índice de mortes que grupo de controle

Foto: Ricardo Giusti/CP

Um novo estudo brasileiro coordenado pelos principais hospitais privados do país e publicado nessa sexta-feira, no periódico científico The Lancet, um dos mais renomados do mundo, mostra que o antibiótico azitromicina não serviu para combater a Covid-19 em pacientes graves. Na falta de terapias específicas contra o coronavírus, o remédio vinha sendo usado desde o início da pandemia na esperança de reduzir a carga viral nos pacientes e combater a reação inflamatória induzida pelo vírus.

Inquérito online feito em abril com mais de 6 mil médicos no mundo apontou que o antibiótico era o segundo remédio mais usado contra a Covid, atrás apenas da hidroxicloroquina. A pesquisa brasileira mostrou, porém, que a droga não acelera a melhora dos pacientes nem baixa a mortalidade.

De acordo com o jornal O Estado de S.Paulo, foram incluídos no estudo 397 pacientes em estado grave, divididos de forma randomizada (por sorteio) em dois grupos: um deles recebeu a azitromicina somado ao suporte padrão,  com antivirais, incluindo a hidroxicloroquina, e outras estratégias terapêuticas hospitalares, como suporte de oxigênio. Já o grupo controle recebeu somente as terapias padrão.

Ao analisarem o estado de saúde dos participantes depois de 15 dias de seguimento, os pesquisadores observaram que não houve diferença significativa no índice de óbitos entre os dois tipos de pacientes. No que recebeu a azitromicina, a mortalidade foi de 42% ao final do período. Já no grupo controle, a taxa foi de 40%. Os cientistas também concluíram que não houve risco aumentado de eventos adversos no grupo que tomou a medicação.

Participaram do ensaio clínico pacientes de 57 hospitais públicos e privados do país, sob a coordenação de oito instituições: Hospitais Sírio-Libanês, Albert Einstein, HCor, Moinhos de Vento, Oswaldo Cruz e Beneficência Portuguesa de São Paulo, além do Brazilian Clinical Research Institute (BCRI) e Rede Brasileira de Pesquisa em Terapia Intensiva (BRICNet).

Os hospitais fazem parte da aliança Coalizão Covid-19 Brasil, responsável pela realização de nove estudos clínicos de possíveis tratamentos para a doença. Essa é a terceira pesquisa do grupo que, em julho, já havia mostrado que a hidroxicloroquina, associada ou não à azitromicina, também não é eficaz no tratamento de pacientes internados com quadros leves e moderados de Covid. A segunda, divulgada na última quarta-feira, demonstrou que o corticoide dexametasona consegue reduzir o tempo de intubação em doentes graves.

Para Otávio Berwanger, diretor de pesquisa acadêmica da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein e um dos autores do estudo, pesquisas como a da azitromicina são importantes para comprovar, com evidências científicas, quais estratégias usadas devem ser interrompidas na tentativa de controle da pandemia. “As informações preliminares de uma suposta eficácia do antibiótico não eram robustas e, pelo caminho da ciência, mostramos que ela não deve ser usada como tratamento pois não é efetiva”, deixa claro.

O pesquisador ressalta ainda que, embora não tenham sido encontrados eventos adversos graves nos pacientes que usaram a azitromicina, o uso desnecessário de antibióticos nunca é recomendado. “Os antibióticos são muito úteis contra infecções bacterianas, mas, se usados de forma indiscriminada, podem aumentar a resistência bacteriana aos remédios”, explica.