Dallagnol e substituto temem influência de Brasília na Lava Jato

Procuradores do MPF em Curitiba Deltan Dallagnol e Alessandro Oliveira concederam entrevistas à Rádio Guaíba nesta quinta-feira

Deltan Dallagnol deixou comando da Lava Jato em Curitiba e foi substituído por Alessandro Oliveira | Foto: José Cruz/ABr; Divulgação/MPF-PR
Deltan Dallagnol deixou comando da Lava Jato em Curitiba e foi substituído por Alessandro Oliveira | Foto: José Cruz/ABr; Divulgação/MPF-PR

O antigo coordenador da operação Lava Jato em Curitiba, Deltan Dallagnol, e seu substituto, Alessandro Oliveira, concederam entrevistas à Rádio Guaíba nesta quinta-feira. Os dois procuradores do Ministério Público Federal comentaram sobre o futuro das investigações. Dallagnol, que deixa o comando da força-tarefa por motivos pessoais, observou que sua saída não interrompe os trabalhos do grupo. Entretanto, o procurador citou sua preocupação com pressões sofridas pela operação.

Deltan Dallagnol disse temer influências de Brasília sobre a Lava Jato. Uma das pressões viria da Procuradoria-Geral da República, hoje comandada por Augusto Aras. As outras seriam do Supremo Tribunal Federal e do Congresso Nacional. “A questão é se Brasília vai deixar a Lava Jato seguir em frente”, questionou. “Tanto pelo Procurador-Geral da República, no tocante à renovação da força-tarefa, a prorrogação dos trabalhos até o dia 9 de setembro, essa decisão precisa ser dada para que o trabalho possa continuar. Como também pelo Supremo Tribunal Federal e pelo Poder Legislativo”, afirmou.

O procurador Alessandro Oliveira, por sua vez, garantiu o prosseguimento da operação, independentemente de eventuais pressões que possa sofrer. “Independente do destino da força-tarefa, que nós lutaremos até o último para que seja mantida ou até ampliada, a Lava Jato vai permanecer”, observou.

Debandada em São Paulo

Nessa quarta-feira (02), sete procuradores da divisão paulista da Lava Jato deixaram seus postos nas investigações. A debandada coletiva ocorreu em meio a discordâncias com a nova coordenadora da força-tarefa em São Paulo, Viviane de Oliveira Martinez. A procuradora foi indicada ao comando do grupo por Augusto Aras.

Deltan Dallagnol referendou a decisão de seus colegas e fez críticas ao trabalho da enviada de Aras. “Foi uma mudança brusca. A pessoa que entrou tinha uma visão completamente diferente e aconteceu de ter uma incompatibilidade objetiva, que não permitiu que os trabalhos avançassem”, argumentou. “Virou um grande desconforto e, infelizmente, eu acredito que quem vai perder agora é a sociedade”, lamentou Dallagnol.

Erros da Lava Jato

A operação Lava Jato ficou sob escrutínio público diante de revelações de supostas irregularidades nas investigações. Reportagens mostraram interferências da Justiça Federal no processo, inclusive com a atuação do ex-juiz Sergio Moro. Deltan Dallagnol reconheceu que, em alguns momentos, a operação cometeu erros. No entanto, o procurador comentou que não teriam ocorrido afrontas à legislação. “Obra humana pode ter equívocos. Justamente porque promotores, juízes e policiais podem cometer equívocos, existe um sistema de justiça para corrigir esses equívocos”, sustentou. “Não é porque existe discordância e alguma mudança de um ato ou uma decisão que houve alguma violação frontal à lei. Porque direito não é matemática”, prosseguiu Dallagnol.

O sucessor, Alessandro Oliveira, minimizou possíveis erros e disse que ‘em time que está ganhando, não se mexe’. “Eventuais correções mínimas que ocorram são salutares neste processo de autorreflexão, de discussão interna entre a equipe, para identificar o que pode, eventualmente, ser melhorado”, avaliou. “O que se destaca na operação Lava Jato, no meu ponto de vista, é a esmagadora maioria dos acertos na correção de rumos que foi realizada neste país”, completou Oliveira.

Deltan Dallagnol também comentou a anulação de uma sentença de Sergio Moro por parte do Supremo Tribunal Federal. Houve um empate de 2 a 2 na Segunda Turma da Corte na decisão sobre a parcialidade do ex-juiz no processo contra um doleiro. O procurador disse confiar na rediscussão da regra que dá vantagem ao réu em caso de empate entre os ministros.


Entrevista de Deltan Dallagnol:

Entrevista de Alessandro Oliveira: