Após a Rússia ter anunciado, nesta semana, que se tornou o primeiro a país a desenvolver uma vacina contra a Covid-19, a doutora em microbiologia pela USP e presidente do Instituto Questão Ciência (IQC), Natália Pasternak, advertiu, hoje, em entrevista à Rádio Guiaíba, a falta de transparência dos europeus sobre a eficácia da imunização, que também é alvo de desconfiança da comunidade científica internacional.
“Não existe transparência no processo cientifico da vacina russa. Na comunidade cientifica internacional é uma boa prática apresentar os resultados, é assim que a ciência caminha. Infelizmente, o instituto não publicou nada até agora. Nós não temos os estudos feitos em animais ou nas fases 1 e 2, em humanos, e eles já dizem que estão com a vacina concluída. Não é uma boa prática esconder os estudos”, criticou.
Em entrevista ao Esfera Pública, Natália também ressaltou que a vacina russa batizada de “Sputnik V” pode ser habilitada no país de origem, mas enquanto não forem apresentados os estudos técnicos, não pode ter o aval da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) a fim de ser distribuída no Brasil. “A Anivsa não vai autorizar sem ter acesso aos dados sobre a segurança e eficácia da vacina. A Anvisa precisa de protocolos. Vai depender de cada agência reguladora de cada país ver se aceita ou não”, considerou.
Os testes clínicos da imunização russa em humanos são coordenados pelo Instituto Gamaleya, de Moscou, e começaram na metade de junho, sem nenhum compartilhamento de resultados no campo cientifico.
Cautelosa, a pesquisadora disse acreditar que, “dando um bom chute”, seja possível que o mundo tenha disponíveis vacinas seguras contra o novo coronavírus na metade do ano que vem. Contudo, ela reforçou o alerta da Organização Mundial Saúde (OMS), que, no início do mês, afirmou que “talvez nunca exista” uma vacina contra a Covid-19.
“O diretor-geral da OMS está certo em jogar um balde de água fria porque as pessoas devem ter os pés no chão. As pessoas tem visto a vacina como salvação mágica, mas não podemos depositar toda a nossa esperança e planejamento em cima de uma possibilidade, ou melhor, da certeza de uma vacina. Assusta ver as pessoas fazendo planos para depois da vacina, sendo que essa data ainda não existe. Quando ele (Tedros Adhanom) fala que tudo pode dar errado, sendo o pior dos mundos, ele destaca a importância de termos os pés no chão”, frisou.
Natália Pasternak ainda analisou o comportamento do brasileiro, que relaxou as medidas de isolamento desde o início da pandemia, em março. “Essa quarentena prolongada que nós vivemos no Brasil é mal feita. Uma quarentena feita pela metade se prolonga e vai exaurindo a população. A sociedade está cansada”, avaliou.