Conta o José Luiz dos Santos que o pai de um amigo seu o Dr Luiz Carlos, dentista em São Nicolau, gostava muito de usar expressões gauchescas para ilustrar ou enaltecer as situações que se apresentavam. São os famosos ditos populares que fazem parte da cultura rio-grandense e brasileira.
Eles tinham propriedade rural no interior do município na qual criavam gado e cultivavam soja e trigo.
Um certo dia chovia torrencialmente e seu Antonio precisava ir à cidade buscar ração para os animais, mas os familiares aconselharam-no a não ir, pois as estradas eram de chão batido e nos dias de chuva ficavam escorregadias e perigosas.
Como ele continuava insistindo, seu filho disse que iria junto para dirigir a camionete. Imediatamente,a ideia foi rechaçada, de maneira irônica:-Só me faltava essa. Tu és motorista de cidade: não sabes que “ovelha não é prá mato”, tchê? ! E arrematou, dizendo:- ” Deixa pra mim que sou canhoto”! Dito isso, pegou seu chapéu e dirigiu-se à camioneta F1000, ANO 80, “zerada”. Ligou o veículo, deu grito de ” Não me nega, beiço de égua”! e se mandou à la cria.
Saiu lindaço, timoneando seu veículo naquele barral. Num determinado trecho, quase atolou, mas foi “´picando” uma segundita e passou o barro:” Não tá morto quem peleia”!
Lá pelas tantas, passou em frente a uma parada de ônibus e viu duas senhoras, que aguardavam o coletivo, cada uma portando uma Bíblia, protegidas somente por um pequeno guarda-chuva.
Como era pessoa de bom coração, parou a camionete e ofereceu carona para as senhoras, que aceitaram o convite subindo na cabine, mas tomando o cuidado para que a mais velha sentasse ao lado do motorista. Essa precaução gerou um comentário do vivente:”Oigalê, velhita, “mais desconfiada que galo torto”.
O único assunto que falaram foi quando ele perguntou aonde iam com aquele tempito e obteve a resposta óbvia: iam à Igreja.
À certa altura do caminho, o veículo atravessou a pista, andando quase de lado, e a passageira, com os solavancos, encostou o corpo no motorista, que manobrava e tentava “segurar” a camioneta para não bater no barranco. O homem, naquele sufoco, prendeu-lhe o grito:” Não tem nada, calça floreada” !
Levou uma “bongornada” de guarda-chuva na cachola, pois a caroneira achou que ele estava ” se passando”, posto que ela usava uma calçola estampada com flores.
Sem entender nada, o motorista só exclamou” À la fresca” e seguiu viagem.
Esse é o meu Rio Grande Tchê !