Nomeado para o Ministério da Educação, o professor Carlos Alberto Decotelli disse no início da noite desta segunda-feira que continua no cargo, após se reunir com o presidente Jair Bolsonaro. “Sou ministro”, afirmou a jornalistas em frente ao Palácio do Planalto, em Brasília. A posse dele, porém, prevista para esta terça, teve de ser adiada em razão do constrangimento causado pelas inconsistências encontradas no currículo profissional.
Decotelli afirmou ter conversado sobre três pontos com o presidente. Desde o fim de semana, a formação acadêmica de Decotelli passou a ser alvo de contestação.
Decotelli assumiu que não defendeu a tese de doutorado na Universidade de Rosário, na Argentina, mas que concluiu os créditos do curso. Ele alegou que não defendeu a tese por falta de recurso financeiro.
Sobre o suposto plágio no mestrado, na Fundação Getúlio Vargas, Decotelli negou que tenha ocorrido e que as citações ficaram dentro do permitido pela universidade. No caso do pós-doutorado na Universidade de Wuppertal, na Alemanha, explicou que a pesquisa de conclusão está registrada em cartório na cidade alemã.
Desde que teve o nome anunciado como ministro da Educação, Decotelli passou a ter questionadas as informações do currículo. Ao anunciar o sucessor de Abraham Weintraub na pasta, o presidente Jair Bolsonaro mencionou a formação do professor: “Decotelli é bacharel em Ciências Econômicas pela Uerj, Mestre pela FGV, Doutor pela Universidade de Rosário, Argentina, e Pós-doutor pela Universidade de Wuppertal, na Alemanha”, escreveu nas redes sociais na quinta-feira passada.
No dia seguinte, o reitor da Universidade Nacional de Rosário, Franco Bartolacci, negou que Decotelli tenha concluído o doutorado. “Cursou o doutorado, mas não o concluiu, pois lhe falta a aprovação da tese. Portanto, ele não é doutor pela Universidade Nacional de Rosário, como chegou a se afirmar”.
O ministro inicialmente negou a declaração de Bartolacci e chegou a mostrar certificado de conclusão de disciplinas à reportagem. “É verdade. Pergunte lá para o reitor”, disse Decotelli na sexta-feira. Questionado se havia defendido a tese, requisito para obter o título de doutor, o ministro não respondeu.
No fim do dia, o novo titular do MEC atualizou o currículo na plataforma Lattes, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Ele passou a declarar que teve “créditos concluídos” no curso de doutorado, em 2009. No campo relacionado ao orientador, o ministro assinalou: “Sem defesa de tese”.
No sábado, a dissertação de mestrado do ministro também virou notícia após o economista Thomas Conti apontar, no Twitter, possíveis indícios de cópia no trabalho, de 2008. Ele citou trechos na dissertação idênticos a um relatório do Banco do Estado do Rio Grande do Sul (Banrisul) para a Comissão de Valores Mobiliários (CVM). A FGV informou que vai investigar a suspeita de plágio.
O pós-doutorado na Alemanha também passou a ser debatido após a universidade fornecer informações diferentes das do currículo do ministro. A instituição informou que ele não obteve título de pós-doutorado e Decotelli mudou hoje o currículo.
O ministro deixou de afirmar que realizou pós-doutorado em Wuppertal e passou a afirmar que submeteu à universidade um “projeto de pesquisa” sobre sustentabilidade e produtividade na automação de máquinas agrícolas, com apoio da empresa Krone.