Moro declara, em entrevista internacional, que não entrou no governo “para servir a um mestre”

Ex-ministro disse não ter compromisso pessoal com o presidente Jair Bolsonaro

Foto: Mauro Schaeffer / CP Memória

O ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro concedeu entrevista para a publicação americana TIME, divulgada nessa quinta-feira. A jornalista Ciara Nugent, que reside em Londres, conversou com Moro, que disse não ter tido a intenção de “causar danos ao governo”, mas que não se sentia “confortável” diante da possibilidade de abandonar o Executivo sem explicar as razões. O ex-juiz, que ao assumir o cargo de ministro, previa consolidar conquistas da Lava Jato mudando as leis contra crimes de corrupção, disse que não entrou no governo para servir “um mestre”.

Na entrevista, Moro confessa que, nas eleições de 2018, esperava ver o  Partido dos Trabalhadores assumir a culpa após os escândalos políticos que enfrentou. O fato de o partido não “procurar um novo começo”, segundo o ministro, mostrava que não havia “um compromisso sério” no combate à corrupção. Em seguida, ele complementa que “o governo que foi eleito também não tem”. O ex-juiz fala que teve a permanência como ministro “drenada”, e que sem “um compromisso sério com a corrupção e o estado de direito” não havia razão para ficar. 

A TIME cita que o lema de “fazer sempre a coisa certa”, tornou Moro, para os brasileiros, um “super-ministro”. A revista publica uma imagem dos protestos ocorridos em Brasília, em junho do ano passado, para mostrar a popularidade que ele havia obtido. Definido como o principal juiz das investigações de corrupção da Lava Jato, o ex-ministro conta que o fato de ter sido responsável por reescrever a história política do país não passou de casualidade e que nunca buscou holofotes ou ser uma figura política.

Boneco inflável de 20 metros mistura a imagem do ministro Sergio Moro com o personagem de quadrinhos e cinema, o Super-Homem – Foto: Rodrigues Pozzebom / Agência Brasil

A revista TIME também mostra que essa imagem, na atualidade, após as denúncias de Sergio Moro contra o presidente Jair Bolsonaro, é outra. Em protestos realizados nas últimas semanas por apoiadores do presidente, o nome do ex-juiz aparece escrito em caixões. O próprio Jair Bolsonaro já chamou Moro de “Judas”. Sobre os ataques pessoais direcionados a ele pelo líder da Nação brasileira, Sergio Moro esclarece não ter compromisso pessoal com Bolsonaro. “Eu não entrei no governo para servir um mestre. Entrei para servir o País, a Lei”, ressaltou. 

Sobre a pandemia do coronavírus, Sergio Moro também declarou que se sente desconfortável por ter participado de um governo no qual o presidente da República não trata a pandemia com a seriedade devida. O ex-juiz finaliza afirmando que, no momento, não pensa em uma carreira política e que o momento é de auto-reflexão.