O ex-presidente Michel Temer considerou, nesta segunda-feira, que as decisões tomadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) não são políticas, como alega o presidente Jair Bolsonaro. De forma recorrente, o Palácio Planalto vem acusando o Supremo de interferir nas ações do governo. “A âncora da democracia está exatamente na separação dos Poderes. As decisões do Supremo não são um ‘troco político’. O Supremo não é de retrucar gestos políticos”, disse Temer.
Em entrevista ao Esfera Pública, da Rádio Guaíba, o ex-presidente lamentou a presença de Bolsonaro em atos antidemocráticos, que pedem o fechamento do STF e Congresso. Mesmo com o aprofundamento da crise política, Temer avaliou que, neste momento, não há ambiente político para se levar adiante um processo de impeachment contra Bolsonaro. “Eu não sei o que vai acontecer à noite, mas neste momento eu não vejo que a crise política se transforme em uma crise institucional. Ainda não há clima para este impedimento no Congresso”, pontuou.
O emedebista advertiu, porém que o cenário pode ser revisto caso se agrave a crise com a divulgação do conteúdo da reunião com base na qual o ex-ministro Sérgio Moro acusou Bolsonaro de interferência na Polícia Federal.
Sobre o avanço da pandemia no país, que já resulta em milhares de mortos, Temer lamentou que a falta de comando no Ministério da Saúde acentue ainda mais a crise geral vivida pela população. “A saída de ministros da Saúde intranquiliza a população e não é boa para o governo”, ressaltou.
Michel Termer reiterou que um novo processo de impeachment vai ser novamente traumático para o país. Durante a entrevista, o ex-presidente voltou a afirmar que nunca conspirou contra a ex-presidente Dilma Rousseff. “Zero, zero”, assegurou.
Ao elencar a falta de diálogo de Bolsonaro com um dos principais fatores da crise, Michel Temer sugere a formação de um grande pacto entre todos os Poderes, partidos e oposição para enfrentar a pandemia.
“O governo está fazendo a parte dele na questão econômica. Mas o presidente já deveria ter chamado os governadores, presidentes dos partidos, chefes do Legislativo e Judiciário, oposição, para fazer um grande pacto nacional.. Esta pandemia começa a abalar as estruturas de todo o país”, advertiu.
Temer também garantiu que a recondução de Carlos Marun para o conselho de Itaipu não teve viés de apoio político do MDB à atual gestão. “Não tem nada a ver com apoio do PMDB ao governo”, disse. Bolsonaro referendou a indicação de Marun, aliado conhecido de Temer e Eduardo Cunha, e publicou a nomeação no Diário Oficial nessa sexta-feira.