Delegados, policiais, procuradores e juízes repercutem de demissão de Moro

Entidades se dizem insatisfeitos e preocupados com declarações graves apresentadas pelo agora ex-ministro, nesta sexta-feira

Ministro Sérgio Moro comentou pacote anticrime através de nota oficial | Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Após o ministro da Justiça e da Segurança Pública, Sérgio Moro, ter oficializado a saída do cargo, no fim da manhã desta sexta, associações e sindicatos ligados à área da segurança emitiram comunicados lamentando a decisão e reforçando a gravidade das declarações apresentadas pelo agora ex-ministro contra o presidente Jair Bolsonaro.

O Sindicato dos Delegados de Polícia Feral no Paraná emitiu um comunicado em que se mostra insatisfeito com a exoneração do Diretor-Geral da PF, Maurício Valeixo, e com a demissão de Moro. Por nota o Sindicato ressalta temer pela continuidade do trabalho da Polícia Federal e salienta repudiar qualquer interferência externa nas investigações realizadas pelo órgão.

“Apesar de (Moro e Valeixo) deixarem os cargos, esta Entidade da Polícia Federal reconhece o trabalho de excelência que vinham desenvolvendo e deseja muito sucesso nos projetos futuros. Assim, nesse contexto, seguiremos vigilantes na observação das futuras decisões dos poderes constituídos, sobretudo com a finalidade de impedir qualquer ingerência na nossa Polícia Federal”.

A Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef) também veio a público lamentando profundamente o pedido de demissão de Moro. A entidade sustenta que o ex-ministro cumpriu o papel que lhe cabia, garantindo a independência da Polícia Federal durante todo o período que ocupou o cargo. Para a diretoria da entidade, independentemente de quem ocupe a pasta e o comando da PF, a instituição, por ser “uma polícia de Estado e não de governo”, precisa manter autonomia e independência nos trabalhos de investigação.

O presidente da Associação Nacional dos Procuradores da República, Fábio George Cruz da Nóbrega, publicou também uma nota dizendo serem muito graves as declarações apresentadas pelo agora ex-ministro. De acordo com ele, a denúncia sinaliza ocorrência de crime de falsidade ideológica por parte de Jair Bolsonaro “na assinatura de ato inexistente de exoneração a pedido do diretor-geral da PF, bem como de crime de responsabilidade, na tentativa de interferência na regularidade de investigações”. No comunicado, Nóbrega deixou claro que emitia um posicionamento pessoal, e não em nome da entidade.

Já o Conselho Nacional de Procuradores-Gerais do Ministério Público do Estado e da União (CNPG), que congrega os chefes dos Ministérios Públicos do Brasil, divulgou uma nota de reconhecimento ao trabalho de Sérgio Moro à frente do Ministério da Justiça e Segurança. “Sempre buscou prestigiar e fortalecer a independência do Ministério Público dos Estados (…) contribuindo assim, para o exercício de sua missão constitucional da defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis”.

Da mesma forma, a Associação dos Juízes Federais do Brasil também se manifestou. O presidente da entidade, Fernando Mendes, reforçou que causa surpresa a saída de Moro do Ministério no momento de crise e ratifica que, apesar de o Ministério não ter relação direto com o trabalho do Poder Judiciário Federal, espera-se que “o próximo chefe da pasta mantenha uma política de Estado, focando nos grandes temas nacionais, como o combate à criminalidade organizada, à corrupção, ao enfrentamento do tráfico de drogas e armas, além de respeitar autonomia da Polícia Federal”.