Em virtude da premente dificuldade financeira dos clubes de futebol, é praticamente consenso que todas as competições previstas para a temporada serão disputadas no campo. E mais, tudo indica que elas serão jogadas sem qualquer mudança drástica em seus regulamentos. Tanto os dirigentes do Grêmio como os do Inter já fizeram diversas manifestações em defesa desse ponto de vista. Isso quer dizer que 2020 invadirá 2021, com partidas pelo menos até janeiro.
Em um prognóstico bastante otimista, levando em consideração o retorno do futebol para o final de maio, a dupla Gre-Nal teria sete meses para completar um calendário que se apresentará sufocante para os clubes. O Tricolor disputou apenas 12 jogos oficiais este ano. O Inter, um a menos. E se avançarem até as fases finais das competições que terão pela frente, o número de partidas pode chegar a 60 em pouco mais de 200 dias. Na média, um jogo a cada 3,2 dias.
O calendário com algumas semanas livres, como acontece em determinados momentos da temporada, já é algo descartado. Se a liberação por parte das autoridades sanitárias e a consequente retomada do futebol ocorrer mais adiante, o quadro irá se agravar. “O Inter não abre mão de disputar todas as competições que estavam programadas. Vamos arrumar uma forma de isso acontecer”, confirma o presidente Marcelo Medeiros.
A tese mais recentemente debatida entre os principais clubes do Brasil é reiniciar o calendário pelos regionais. Trata-se de uma competição que está no final e que não tem viagens longas. As delegações poderiam se deslocar de ônibus e jogar em estádios sem torcida. Assim, os clubes voltariam a receber o dinheiro pago pelas emissoras de televisão pelo direito de transmissão, sem correr grandes riscos.
O Campeonato Brasileiro seria uma etapa posterior. Afinal, necessita que a malha do transporte aéreo, neste momento quase paralisada, volte a operar. Os estádios também não receberiam público, pelo menos nos próximos meses. Uma alternativa estudada é reunir partidas em uma mesma região ou cidade do país. Neste caso, o Inter ou o Grêmio, quando fossem ao Nordeste, poderiam jogar contra o Bahia, o Sport Recife e o Fortaleza em datas próximas, abreviando a necessidade de viagens.
Atualmente, o regulamento de competições da CBF determina que haja um intervalo de 66 horas entre um jogo e outro. “A CBF terá de demandar a perspectiva de ter alguns jogos em intervalo de 48 horas”, diz o vice de futebol do Grêmio, Paulo Luz. “Daqui a pouco, poderemos ter um jogo do Brasileirão na quarta-feira, um da Copa do Brasil na sexta e outro do Brasileiro no domingo”, argumenta.
A priorização de um torneio em detrimento do outro se fará ainda mais presente. “Tem que ter um plantel qualificado. Não tem como escapar de escalar um time misto para poupar em um eventual mata-mata. As avaliações serão frequentes”, diz.
Paulo Luz acredita que o calendário vai sim se estender até janeiro de 2021. E aí entra a preocupação com os jogadores que têm contrato se encerrando em dezembro. “Com os atletas que são donos de seus direitos econômicos, você tem condições de negociar. O problema é aqueles que envolvem uma terceira parte. Pela excepcionalidade do momento, acredito que a Fifa interfira para prorrogar os contratos automaticamente”, projetou.
Outro ponto que já vem sendo discutido entre a CBF e os clubes é um conjunto de precauções a ser adotado nos jogos. “Temos que ter um protocolo, as primeiras partidas certamente não terão presença de público. Não adianta o Grêmio tomar todos os cuidados e, quando sair para jogar em outro estádio, não haver o mesmo cuidado. Se não houver um protocolo, não viabiliza a competição”, finaliza o dirigente do Grêmio.