Responsável pelo inquérito que a Polícia Civil instaurou para apurar as circunstâncias e os responsáveis pela intoxicação de 42 pessoas que ingeriram cervejas da Backer, o delegado Flávio Grossi, revelou ter descartado a hipótese de a cervejaria mineira ter sido alvo de sabotagem.
“Não evoluímos com esta linha. A negligência sim é uma das nossas linhas de investigação”, disse o delegado, nessa quarta-feira, dia em que as investigações policiais sobre o caso completaram três meses.
Segundo Grossi, a possibilidade de a Backer ter deliberadamente usado o dietilenoglicol no processo de produção de cerveja ainda não está descartada, embora haja indícios de que a empresa pode ter empregado a substância acreditando tratar-se de monoetilenoglicol. As duas substâncias são tóxicas e, apesar de serem usadas em sistemas de refrigeração devido às propriedades anticongelantes, não podem ser misturadas à água.
O delegado disse acreditar que a força-tarefa montada para esclarecer o caso esteja prestes a concluir o inquérito, mas evitou antecipar conclusões. “Estamos em um estado avançado sobre o caminho do dietilenoglicol e sobre como aconteceu [a contaminação]. O que eu posso falar é que existia dietilenoglicol dentro da cervejaria, o que está quimicamente comprovado”, acrescentou Grossi, alegando ainda não ser o momento de falar sobre como a substância tóxica contaminou dezenas de lotes de diferentes rótulos de cerveja produzidos pela Backer e que chegaram às mãos dos consumidores.
Mortes
Ao menos nove pessoas morreram por complicações que as autoridades públicas de Minas Gerais associaram à síndrome nefroneural atribuída à intoxicação por dietilenoglicol. Dessas, cinco foram submetidas a necropsias: em quatro casos, a perícia acusou a presença de dietilenoglicol; o resultado do quinto exame ainda é aguardado.
De acordo com o delegado, os laudos das outras quatro vítimas não submetidas a necropsias “diretas” serão atestados de forma “indireta”, ou seja, por meio da análise de vários documentos médicos, incluindo a evolução do quadro clínico desde o surgimento dos sintomas que os levaram a procurar ajuda até o óbito.
Já as 33 vítimas sobreviventes também vinham sendo submetidas a uma série de exames que, com a pandemia do novo coronavírus, foram interrompidos por questão sanitária. “Passamos a realizá-los indiretamente, por apresentação de prontuários”, comentou Grossi, explicando que, também nestes casos, médicos-legistas vão produzir laudos “indiretos”, analisando a documentação.
Inquérito
Desde o início da investigação, a Polícia Civil já colheu os depoimentos de 66 pessoas, entre vítimas, testemunhas e ligadas à Backer. De acordo com o delegado, os responsáveis pela cervejaria vêm colaborando com o trabalho policial.
“Houve, em alguns momentos, desentendimentos da nossa atuação por parte da empresa, mas todos foram sanados a tempo e a investigação pôde continuar a todo vapor. Entreveros são naturais. O importante é que isto não impediu que as perícias continuassem”, pontuou o delegado.