Infectologista alerta para uso indiscriminado de máscaras e recomenda cautela com teste rápido

Alexandre Zavascki citou higienização e isolamento domiciliar como peças chave para enfrentamento da pandemia de coronavírus

Foto: Marco Bertorello / AFP / CP

Em entrevista à Rádio Guaíba, o médico infectologista Alexandre Zavascki alertou, nessa quinta-feira, para o uso indiscriminado de máscaras em meio à pandemia de coronavírus. Embora o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, tenha dito que “qualquer pessoa” pode fazer uma máscara de pano para se proteger, Zavascki reiterou, ao Guaíba News, que o uso é mais indicado a pessoas infectadas, a fim de frear a propagação do vírus.

“Essas recomendações carecem de manuais educativos, de como as máscaras devem ser usadas corretamente. A máscara protege se for bem usada, mas é muito mais protetora da comunidade ao redor do que para si próprio”, ressalta.

Professor de infectologia da Ufrgs e chefe do Serviço de Infectologia do Hospital Moinhos de Vento, Zavascki recorda que, em epidemias anteriores, o uso massivo de máscaras auxiliou a propagar a contaminação.

“Ao colocar a máscara, a pessoa se sente mais protegida e pensa que não vai mais se infectar. Acaba relaxando, esquece de lavar as mãos e continua tendo contato com o todo ambiente em sua volta. A máscara pode trazer benefícios se for bem usada mas, se não vier com um pacote de medidas educativas, pode ter um efeito paradoxal, de aumento de infecções”, salienta.

Zavascki explica que o paciente diagnosticado pode propagar o vírus apenas falando, a uma distância mínima de um metro. Como as gotículas de saliva podem “saltar”, quem que sejam visíveis, a orientação é manter dois metros de distância mínima.

Testes

O professor também pontua que a aplicação de testes para a Covid-19 deve respeitar estritamente as recomendações dos fabricantes. “O resultado do teste demora uma semana. Por isso, antes de a gente sair aplicando testes em larga escala, precisamos realmente saber se eles vão funcionar”, pondera.

Alexandre Zavascki sugere que os hospitais façam testes com grupos pequenos de pacientes para comprovar a eficácia do exame. “A gente precisa de uma validação externa desses testes, e não somente os dados dos fabricantes. A Espanha devolveu milhares de testes porque, na prática, eles não conseguiam detectar a doença, em 70% dos casos”, relata.

Sobre o isolamento social, o infectologista se mostrou taxativo: “A gente sabe que o impacto econômico é inevitável, mas estamos tentando diminuir o impacto humano”.

75% de chance de erro

O Ministério da Saúde detectou “limitações importantes” em cerca de 470 mil testes rápidos doados pela mineradora Vale, fabricados na China, e pediu cautela a gestores do Sistema Único de Saúde (SUS) que vão aplicar os exames.

A desconfiança do governo federal surgiu após análise de qualidade de um laboratório privado, feita a pedido da Pasta, apontar 75% de chance de erro em resultados negativos para o novo coronavírus.

O índice de erro cai para 14% em exames positivos, ou seja, apontando a infecção, mas mesmo assim o governo sugeriu que o produto seja aplicado apenas em pessoas que estejam apresentando sintomas da Covid-19 há, pelo menos, sete dias, para evitar diagnóstico falso.

Desde o anúncio do uso dos testes rápidos, o Ministério da Saúde já vinha orientando o uso do produto apenas em quem está na linha de frente do combate ao novo coronavírus, especialmente profissionais de saúde.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) não recomenda o uso desse tipo de teste para toda a população. O Ministério ainda elabora um documento com recomendações para uso do produto para que o resultado seja “coerente com o que o teste pode oferecer”.